por Carlos Eduardo Ribeiro Jr
Com o início da chamada [pelo setor elétrico] “flexibilização” das restrições de operações da UHE Xingó, que opera desde sábado com descargas médias de 800 m³/s, o Baixo São Francisco é novamente submetido aos quadros de 2016 e 2019, com a agravante do acúmulo de impactos desde a aplicação das reduções de vazão abaixo de 1.300 m³/s, no início de 2013.
O Baixo São Francisco amanheceu no seco, literalmente: bombas e embarcações em terra, em meio à massa de algas e vegetação aquática invasoras, comprovavam os prognósticos do que seria a adoção de vazões inferiores aos já ínfimos 1.100 m³/s (hum mil e cem metros cúbicos por segundo) até então praticados pela CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco na operação da UHE Xingó.
Num rápido monitoramento a partir da Reserva Mato da Onça, o INFOSÃOFRANCISCO percorreu trechos ao longo das margens em Sergipe e Alagoas, em torno de 20 km, verificando a situação.
Com bombas aterradas, em sistemas de captação de água em seus limites físicos extremos das redes hidráulica e elétrica que não podem ser mais prolongadas de rio adentro (para captar e lançar água mais longe são necessários mais canos, cabos elétricos de maior diâmetro, e bombas mais possantes: custos mais elevados de investimento e operação incompatíveis com a realidade das populações ribeirinhas) a situação de penúria sanitária e alimentar é agravada.
Tem-se instalado, no Baixo São Francisco, um quadro crônico de não acesso à água por população numerosa, à qual se impõe situação de vulnerabilidade de saúde coletiva (problemas de captação de água para consumo humano, higiene) e segurança alimentar (água para cozinhar, cultivos de subsistência e sobrevivência).
Veja na galeria abaixo a situação registrada no final de semana e na manhã de hoje (21).
Acesso à água comprometido
Este novo (e cumulativo) impacto aos ecossistemas contribuirá para o já acelerado definhamento da biodiversidade, algo já amplamente comprovado e confirmado - mais uma vez - pelo recente relatório do quadro socioambiental do Baixo São Francisco produzido pela UFAL - Universidade Federal de Alagoas.
Com as largas faixas de algas e vegetação aquática acumulada e crescente ao longo da borda do espelho d’água verifica-se, ainda, a imposição de limitações de mobilidade: com estradas rurais em péssimo estado sendo a tônica na grande parte dos municípios no Baixo São Francisco, o caminho fluvial, para muitos, é a alternativa.
Porém, com o assoreamento e o bloqueio das beiras de rio pelas massas de algas e vegetação, a navegação é gravemente prejudicada ou mesmo inviabilizada em toda a região a jusante da UHE Xingó.
Navegação prejudicada
Imagem em destaque: As marcas da água tomada. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./INFOSÃOFRANCISCO.
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Fontes
ANA – Agência Nacional de Águas
CHESF - Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
SNIRH - Sistema Nacional de Informações Sobre os Recursos Hídricos