por Carlos Eduardo Ribeiro Jr
Os primeiros sete dias da UHE Xingó com descargas médias de 800 m³/s, mas mínimas abaixo de 700 m³/s, confirmam a insustentabilidade do modelo de operações determinado pela Resolução ANA 2081/2017.
No domingo (27), seguindo demanda do setor elétrico, foi completada a primeira semana de operações da UHE Xingó com o padrão de 800 m³/s (oitocentos metros cúbicos por segundo) segundo o adiantamento [da adoção] da redução das descargas de 1.100 m³/s que vinham sendo praticadas.
O modelo de operações segue o determinado pela Resolução ANA 2081/2017 que vem mostrando o resultado nada positivo do endurecimento do uso hegemônico das águas do Velho Chico pelo setor elétrico.
A constatação, nos últimos dias, a partir de monitoramentos realizados na região do alto sertão do Baixo São Francisco foi um de preocupante quadro de impactos, com o leito do rio ainda mais exposto e a aceleração do avanço da vegetação invasora em direção ao eixo da calha.
Veja na galeria abaixo a situação registrada no final de semana.
Sem água
Com as largas faixas de algas e vegetação aquática acumulada e crescente ao longo da borda do espelho d’água verifica-se, ainda, a imposição de limitações de mobilidade: com estradas rurais em péssimo estado sendo a tônica na grande parte dos municípios no Baixo São Francisco, o caminho fluvial, para muitos, é a alternativa.
a implacável operação da uhe xingó
Não é demais recordar que, desde 2013, as operações da UHE Xingó têm sido majoritariamente com descargas abaixo de 1.300 m³/s, a vazão mínima limite pelo Plano de Bacia, e suprimida do mesmo pelo CBHSF – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco em 2016. A essa condição de hidrologia artificial, temos os pulsos horários da UHE Xingó, que aceleram – com os impactos horário, recuando e avançando sobre as faixas da borda do espelho d’água – os processos erosivo e de assoreamento. Em evolução concomitante ao avanço do aterramento do leito do rio, com a variação da umidade sobre a zona exposta, auxiliada pela matéria orgânica de massa algal e vegetal em decomposição, é verificada a invasão do leito por vegetação exótica invasora intensa, consolidando novas faixas de terreno ocupado que a calha principal perde de forma significativa.
A situação crítica de localidades onde vivem populações difusas ao longo das margens apresentada na semana passada, com suas captações de água para sobrevivência inviabilizadas, assume, com os picos negativos com vazões ainda menores, proporção catastrófica de saúde coletiva em grande risco.
Com a redução de defluências ainda abaixo de 700 m³/s, na ordem de 670 m³/s a partir do sábado, a situação de exposição do leito do rio foi agravada, bem como a das pequenas captações de águas utilizadas por populações difusas (para uso humano e agricultura de subsistência).
Para complicar suas vidas, também a mobillidade fluvial, a chamada navegação difusa (pequenas embarcações para uso familiar e transporte de suas pequenas produções para as feiras regionais) também está grandemente impactada.
Até o momento não são conhecidas ações consistentes por parte dos poderes públicos municipais, estaduais ou federais voltadas para os inúmeros problemas enfrentados pelas populações difusas que seguem sem ter seus direitos ao meio ambiente saudável e acesso à água de fato garantidos.
Os gráficos das operações recentes, de 1.100 a 800 m³/s de vazões médias
No fechamento da matéria a UHE Xingó operava com descargas de 695,73 m³/s (11:00hs).
Imagem em destaque: A boca do Saco, com a zona rochosa totalmente exposta. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./INFOSÃOFRANCISCO.
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Fontes
ANA – Agência Nacional de Águas
SNIRH – Sistema Nacional de Informações Sobre os Recursos Hídricos