UFAL publica versão provisória e resumida do relatório da 3ª. Expedição Científica do Baixo São Francisco e resultados indicam situação precária da qualidade da água e ecossistemas aquáticos no trecho baixo do rio São Francisco.
Em mais uma manifestação contrária à forma como é gerido o São Francisco (suas águas, seu território), cujo panorama socioambiental é comprovadamente desastroso, a Sociedade Canoa de Tolda encaminhou à ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, ofício onde exorta a agência a organizar uma derradeira e grande iniciativa pela recuperação do rio.
O documento foi elaborado de forma a agregar mais informações sobre a gravidade do quadro que é observado no Baixo São Francisco e foi direcionado, além da ANA, aos demais participantes das Reuniões de Acompanhamento das Condições de Operação do Sistema Hídrico do Rio São Francisco que se reuniriam no dia 29 de março passado para tratar de demanda de vazão diferenciada – a manutenção dos então 800 m³/s (oitocentos metros cúbicos por segundo) – a partir de 1º. de abril corrente.
Na apresentação dos fatos à ANA, tendo como referência a precariedade em que se encontram as populações ribeirinhas, a Canoa de Tolda faz a colocação:
“Nestas brenhas periféricas do Brasil, onde tanta gente vive e sendo pobre sua maioria, o custo socioambiental das recuperações, revitalizações, intervenções e políticas públicas dissociadas de um necessário e democrático projeto de nação chegou a algo monumental, e tardia é a hora de entrarem em campo as conversações de contabilidade. São ponto de pauta para ontem, anteontem, para amanhã, para depois, para agora e sempre.”
e prossegue ainda lembrando que
“… a retirada, pelo CBHSF – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, da vazão mínima de restrição de 1.300 m³/s de seu Plano de Bacia (na atualização publicada em 2016) propiciou situação de extrema vulnerabilidade socioambiental para o rio e favoreceu, sem qualquer dúvida, a eclosão da Resolução 2081/2017, na qual, sem nenhum componente de restrição ambiental, o setor elétrico tem seu objeto de desejo, a vazão mínima de 700 m³/s, como veremos adiante…
“… a ANA tem a possibilidade de mobilizar e organizar um derradeiro esforço não só pelo rio São Francisco, mas por todos os demais rios brasileiros…”
O encaminhamento do documento à ANA seria tentativa de sensibilizar o sistema de gestão para uma talvez derradeira oportunidade de mudança na forma de ver e respeitar um patrimônio natural essencial à vida, no caso, os rios brasileiros representados pelo Velho Chico.
Veja/descarregue o documento Uma Derradeira Oportunidade para o Rio São Francisco
ATÉ A ÚLTIMA GOTA: O SÃO FRANCISCO SOB CRESCENTE PRESSÃO DO SETOR ELÉTRICO
No dia 31 de março passado o InfoSãoFrancisco publicou a matéria Setor elétrico demanda manutenção de vazão de 800 m³/s no Baixo São Francisco referente à tentativa, da parte do setor elétrico, de uma chamada “flexibilização” da Resolução ANA 2081/2017.
A matéria citada, sob um clima de espera, é posterior à 2ª Reunião Extraordinária de Acompanhamento das Condições de Operação do Sistema Hídrico do Rio São Francisco (realizada em 29 de março de 2021) inserida no conjunto de vídeo reuniões organizadas pela ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico.
Na reunião do dia 29 foi discutido se as vazões no Baixo São Francisco descarregadas pela UHE Xingó subiriam de 800 m³/s para 1.100 m³/s (hum mil e cem metros cúbicos por segundo), conforme o estabelecido pela Resolução ANA 2081/2017, ou permaneceriam, com a “flexibilização” da regra demandada pelo ONS – Operador Nacional do Sistema, em apenas 800 m³/s.
De forma resumida, como ainda estamos no período úmido e com o reservatório de Sobradinho tendo ocupação acima de 60% de seu volume, o padrão de operação é NORMAL. Portanto, em 1º de abril e segundo as regras, a vazão deveria ser elevada para 1.100 m³/s.
Veja abaixo o gráfico que ilustra as condições de operação dos barramentos sob a Resolução ANA 2081/2017.
Leia ainda
Setor elétrico demanda manutenção de vazão de 800 m³/s no Baixo São Francisco
Água prioritária para geração de energia – Meio ambiente e usos múltiplos sem contemplação
A longa carreira: 101 km por um punhado de peixes
UHEs Sobradinho e Xingó: setor elétrico mantém vazões de 800 m³/s em março
CHESF: vazões da UHE Sobradinho aumentam, UHE Xingó mantém padrão atual
Fontes
UFAL – Universidade Federal de Alagoas