Ignorando a calamidade enfrentada pela população ribeirinha no Baixo São Francisco, vivendo em um panorama ambiental de extrema degradação além da imposição de situação crítica de não acesso à água, o setor elétrico aperta o cerco pela manutenção das vazões atuais.
No dia 17 passado o ONS – Operador Nacional do Sistema encaminhou à ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, solicitação de flexibilização da Resolução ANA 2081/2017 (entrou em vigor no início deste ano) que estabeleceu novos parâmetros para as operações de barramentos na bacia do rio São Francisco. A solicitação foi justificada através da Nota Técnica NT-ONS DGL 0027/2021 encaminhada como anexo do ofício CTA-DGL 0398/2021.
Veja/descarregue abaixo o ofício encaminhado à ANA contendo a Nota Técnica NT-ONS DGL 0027/2021.
É importante o conhecimento de que, no início de janeiro, o São Francisco começou a ser “operado” na sua versão 2021(sob as restrições da Resolução ANA 2081/2017) que, em seguida ao breve incremento de vazão no mês de dezembro de 2020 (equivocadamente qualificado por muitos veículos e/ou órgãos como cheia, sendo não mais que uma situação de defluência da UHE Xingó de 2.850 m³/s, algo acima dos 2.060 m³/s estabelecidos desde a regularização pela UHE Sobradinho) baixou as vazões médias da UHE Xingó para cerca de 1.100 m³/s (hum mil e cem metros cúbicos por segundo).
Entre janeiro e o mês de março, as vazões da UHE Xingó, em sincronia com as descargas da UHE Sobradinho (de acordo com as definições de situação de operação e volumes no reservatório desta última definidos pela Resolução 2081/2017) foram sucessivamente reduzidas chegando, nesta data, ao valor de 800 m³/s de vazão média.
Veja o gráfico que explica como funcionam as restrições da Resolução ANA 2081/2017
No atual momento, estando o reservatório de Sobradinho nesta data com a ocupação de volume acima dos 60% (no dia 30 o valor exato era de 71,05%), a situação de operações passa, portanto, a ser enquadrada como NORMAL. As condições de vazões e armazenamentos podem ser observadas no gráfico abaixo.
Veja abaixo o gráfico fornecido pela ANA
Como resposta ao ONS a ANA produziu seu ofício OFÍCIO Nº 31/2021/AA-CD/ANA do dia 22 de março onde lista a justificativa do demandante onde apresenta a justificativa do ONS segundo a qual:
“… se trata de condição adversa para todo o Sistema Interligado Nacional, que representa risco ao atendimento eletroenergético durante o ano de 2021 “
e a ANA também se manifesta onde:
“Cabe destacar que medidas dessa natureza devem ser solicitadas com antecedência, especialmente considerando que o cenário atual era conhecido desde o início do ano , e que na ocasião da reunião da Sala de Acompanhamento da operação coordenada pela ANA, realizada no dia 2 de março de 2021, o assunto não foi mencionado pelo ONS.”
Prosseguindo, a ANA estabeleceu que o tema seria debatido em Reunião Extraordinária da Sala de Monitoramento São Francisco, o que ocorreu no último dia 25.
Veja o vídeo completo da Reunião Extraordinária aqui.
Veja/descarregue 0 ofício da ANA em resposta ao ONS
Na reunião do dia 25 o ONS apresentou uma de suas já típicas modelagens para a proposta de flexibilização, que pode ser visualizada e descarregada abaixo
Veja/descarregue a apresentação do ONS para fundamentar a demanda
Notas –
1-Até o fechamento da matéria não havia conhecimento da decisão da ANA sobre a mudança das operações da UHE Xingó solicitadas pelo setor elétrico.
2- A vazão da UHE Xingó, às 13:00 estava em 688,39 m³/s, acompanhada de situação crítica de processo de fermentação/decomposição da massa algal e vegetal acumulada (faixas de mais de vinte, trinta metros de largura) ao longo das bordas do espelho d’água. O acesso à água de qualidade para consumo humano, interação com o rio (banhos, lazer), navegação (acesso de embarcações aos portos difusos ao longo das margens) permanece comprometido, quando não impedido.
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Fontes
ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico
ONS – Operador Nacional do Sistema