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CHESF mantém vazões mínimas abaixo de 700 m³/s, danos se consolidam

por Redação

Desde o dia 26 de junho que o Baixo vem sendo submetido a vazões inferiores aos 700 m³/s consolidando a piora do quadro socioambiental em toda a região.


Sem que seja observada a adoção de medidas compensatórias ou corretivas, as operações da UHE Xingó, controlada pela CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, mantém o padrão de operações com descargas extremamente baixas, acumulando o passivo ambiental e social do regime pós-2013 (quando as descargas da UHE Xingó passaram a liberar menos de 1.300 m³/s – hum mil e trezentos metros cúbicos por segundo) sobreposto àqueles provocados pelos mais de quarenta anos de regularização (com a construção da UHE Sobradinho, em 1979/80).

Fonte: ANA/SNIRH com adição de marcação referencial (em vermelho) do InfoSãoFrancisco.
Fonte: ANA/SNIRH com adição de marcação referencial (em vermelho) do InfoSãoFrancisco.

Apesar de serem verificadas temperaturas particularmente baixas nos últimos meses (para as médias dos invernos no Baixo São Francisco), é observada a permanência de bancos de algas e vegetação macrófita aquática exótica invasora, sobretudo nas largas faixas ao longo das bordas do espelho d’água.

O panorama atual permite projetar, caso o verão próximo tenha padrão de temperaturas elevadas, como o de 2020/21, uma nova onda no avanço dos organismos invasores nos ecossistemas aquáticos.

Caminhando pelo leito secado do rio São Francisco

No vídeo temos uma breve caminhada sobre o leito exposto do rio São Francisco, na RPPN Mato da Onça, onde é visível a ocupação pela vegetação exótica invasora, beneficiada pelos pulsos das descargas da UHE Xingó que ‘irrigam” a zona.

A operação da UHE Xingó e seus impactos no Baixo São Francisco

Desde 2013 que as operações da UHE Xingó têm sido majoritariamente com descargas abaixo de 1.300 m³/s, a vazão mínima limite estabelecida pelo Plano de Bacia, e suprimida do mesmo pelo CBHSF – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, na atualização do plano diretor em 2016. A essa condição de hidrologia artificial com quantidade insuficiente de água, temos os pulsos horários da UHE Xingó, que aceleram – com os impactos horário, recuando e avançando sobre as faixas da borda do espelho d’água – os processos erosivo e de assoreamento. Em evolução concomitante ao avanço do aterramento do leito do rio, com a variação da umidade sobre a zona exposta, auxiliada pela matéria orgânica de massa algal e vegetal em decomposição, é verificada a invasão do leito por vegetação exótica invasora intensa, consolidando novas faixas de terreno ocupado que a calha principal perde de forma significativa.

Mais recentemente, o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis atualizou a LO – Licença de Operação da UHE Xingó, reduzindo a vazão mínima de 1.300 m³/s para 700 m³/s. De modo, segundo o órgão, a seguir o “alinhamento com a Resolução ANA – 2081/2017”.
Permanece um quadro de situação crítica de localidades onde vivem populações difusas ao longo das margens, com suas captações de água para sobrevivência inviabilizadas, significando, ainda, maior risco para a saúde coletiva.

Com a redução de defluências ainda abaixo de 1.300 m³/s, a situação de exposição do leito do rio se agrava, estabelecendo um padrão de leito exposto, invadido por espécies exóticas (e humanas), águas com qualidade comprometida e peixes contaminados (como atesta o relatório recente da UFAL – Universidade Federal de Alagoas) , e biodiversidade que definha.
Além da água pouca, de má qualidade, a população ribeirinha enfrenta problemas de mobilidade fluvial, a navegação difusa (pequenas embarcações para uso familiar e transporte de suas pequenas produções para as feiras regionais) fortemente impactada.

Não são conhecidas até o momento, ações consistentes por parte dos poderes públicos e gestões municipais, estaduais ou federais voltadas para os inúmeros problemas enfrentados pelas populações difusas que seguem sem ter seus direitos ao meio ambiente saudável e acesso à água de fato garantidos.

No fechamento da matéria os únicos dados referentes às operações da UHE Xingó remontavam às 16:00 hs do dia 08 de agosto (684,41 m³/s).


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Fontes

ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico

SNIRH – Sistema Nacional de Informações Sobre os Recursos Hídricos

IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis