por Comunicação Guaicuy | Instituto Guaicuy
Documentário produzido pelo Instituto Guaicuy mostra como moradores que vivem às margens do Velho Chico na represa de Três Marias foram afetados pelo desastre-crime em Brumadinho.
‘Pra nós, aqui, acabou com tudo. Você tem um peixe pra vender, vai vender pra quem? Às vezes tem que vender pra um amigo seu, quase barato, porque não tem um turista mais pra te comprar um peixe”. O depoimento de Filé, morador de Pontal do Abaeté, comunidade localizada em Três Marias, faz parte do minidocumentário lançado em julho pelo Instituto Guaicuy. “Depois da represa tem um rio” fala sobre os danos do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, em comunidades ribeirinhas do Rio São Francisco que ficam nos municípios de Três Marias e São Gonçalo de Abaeté.
Em depoimentos cheios de dor e preocupação, ribeirinhos e ribeirinhas que vivem às margens do Velho Chico, reivindicam a reparação justa pelos danos causados pelo crime da mineradora em 2019. (Assista ao vídeo abaixo).
Sem auxílio
“O rompimento afetou famílias, pessoas que não têm nada a ver com aquilo, que estavam extremamente fora daquela região, e a gente continua sendo afetado mesmo depois de tanto tempo”, desabafa Adão, morador de Silga, comunidade de Três Marias. Por mais que estejam incluídos nas áreas consideradas no acordo judicial, os ribeirinhos do Rio São Francisco citados no minidocumentário não contam com o Programa de Transferência de Renda (PTR), valor que deverá ser pago mensalmente às pessoas atingidas ou prejudicadas pelo rompimento da barragem da Vale.
Isso acontece porque o programa tem alguns critérios que devem ser considerados para garantir o recebimento da quantia mensal: a pessoa deve viver em comunidades que ficam até um quilômetro da margem do Rio Paraopeba, ou das margens do lago de Três Marias reconhecidas como atingidas. Ou, em comunidades que sofrem com desabastecimento de água, ou nas que receberam alguma obra emergencial relacionada ao desastre.
Conheça o território abordado em “Depois da represa tem um rio”
O Instituto Guaicuy presta Assessoria Técnica Independente para dez dos 26 municípios considerados como atingidos pelas Instituições de Justiça, depois que a lama da mineradora foi derramada no Rio Paraopeba. Os municípios se dividem em cinco regiões e o instituto dá suporte às comunidades da Região 4, onde estão os municípios de Pompéu e Curvelo; e da Região 5, que abrange as cidades que ficam na região do Lago de Três Marias, como os municípios de São Gonçalo do Abaeté e Três Marias.
O Lago de Três Marias é onde o Rio Paraopeba desagua e termina, no município de Felixlândia, depois de percorrer mais de 12 mil quilômetros. É neste Lago também por onde o Rio São Francisco passa após percorrer Martinho Campos, Abaeté e Pompéu. Mais a frente, após atravessar várias comunidades, o Lago de Três Marias volta a ser Rio São Francisco, banhando os municípios de São Gonçalo do Abaeté e Três Marias, antes de seguir para o nordeste do Brasil, conforme mostra o mapa abaixo.
As comunidades ribeirinhas atendidas pelo Guaicuy banhadas pelo São Francisco são: Pontal do Abaeté, Vila Albana, Beira Rio, Barra do Rio de Janeiro, Silga, Ilha da Silga, Ilha do Coló, Ilha das Barreiras, Porto do Pontal, Aldeia dos Dourados, Ilha da Merenda, Escadinha, Barra do Espírito Santo e Ilha da Catuaba, além de outras localidades com ocupações humanas menores. Esse ponto específico do mapa também simboliza o limite dos territórios que fazem parte do acordo judicial de R$ 37,69 bilhões firmado entre a Vale, o Estado e as Instituições de Justiça (Defensoria Pública/MG, Ministério Público/MG e Ministério Público Federal), em fevereiro de 2021, que trata de parte da reparação dos danos provocados pelo rompimento.
Comunidades contam com o Velho Chico
“Diversas comunidades desses municípios contam com as águas do Rio São Francisco para atividades determinantes para seu sustento, como pesca, turismo e plantio, e relatam terem tido muitas mudanças negativas após a ruptura da barragem”, conta Hélio Sato, coordenador regional do Guaicuy.
Sato ainda frisa o fato de as comunidades retratadas no minidocumentário não serem as únicas afetadas pelo rompimento nas margens do Rio São Francisco. “Os danos chegaram nas comunidades do Rio São Francisco, os modos e reprodução de vida dessas pessoas se ligam ao rio, seja como fonte de alimento, renda, lazer e identidade. A possibilidade de contaminação do Rio São Francisco modificou negativamente e alterou toda dinâmica de vida da população ribeirinha.”
Assista o vídeo!
Fontes: Instituto Guaicuy
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