por Carlos Eduardo Ribeiro Jr. | InfoSãoFrancisco
Com chuvas no Alto São Francisco e aumento das vazões na região, a exuberância do Velho Chico com mais água é mal utilizada: está valendo a desinformação que alaga o vulnerável espaço que deveria ser preenchido por informações adequadas vindas dos entes da gestão das águas do rio, estados e municípios.
Nos últimos dias, as nascentes de notícias falsas produziram volume e ocuparam as redes sociais com jorros de conteúdos sobre uma grande enchente que estaria chegando ao Baixo São Francisco. Vídeos com barragens espumantes e falas como “cidades que estão prestes a se alagar” foram a tônica da informação mal conduzida.
Aparentemente do gosto do público, as falas ansiosas e anunciadoras de catástrofes nos áudios e os vídeos que são potencializados por alarmados narradores, que nunca “viram tanta água” vão sendo encaminhados com crescente frequência e dominam a troca de desinformação.
O áudio abaixo, narrado por um cidadão muito provavelmente no Baixo São Francisco, uma vez que cita localidades e cidades com boa precisão, é um bom exemplo de como são construídas as histórias que, espalhadas como uma epidemia, passam a fazer parte dos temas elencados como de primeira relevância pelos grupos que os aceitam e colaboram para seu espalhamento.
Notícia falsa: alarme de enchente no Baixo São Francisco
O comportamento de grupos sociais que leva à propagação de notícias desonjuntadas não é novo, muito provavelmente tenderá a crescer e não é devidamente enfrentado – através da boa, acessível e permanente comunicação sobre as operações de barramentos e temas relacionados – não só pelos entes do sistema de gestão das águas do Velho Chico, mas também pelos estados de Alagoas, Sergipe e seus respectivos municípios ribeirinhos.
Com a a facilidade de acesso ao circuito das redes sociais, sobretudo o aplicativo Whatsapp, largamente utilizado no Baixo São Francisco, seria difícil considerar que os gestores das águas e território do Velho Chico não teriam conhecimento do teor do que é precariamente disseminado.
Seja o que for, não é verificada pela sociedade uma contrainformação oficial saudável, precisa, objetiva, ampla, que daria o contra peso – ao menos em parte – à corrente da desinformação.
Sem informações para o grande público afetado
Os sites de órgãos e estados diretamente relacionados ao cotidiano do São Francisco, visitados hoje (07/01/2022), não apresentam informações objetivamente esclarecedoras sobre a relação da hidrologia no Alto São Francisco e suas implicações com o Baixo e as manobras que estão sendo realizadas nos barramentos de Sobradinho e Itaparica.
A página de entrada do site da ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico não contém, no momento, qualquer notícia relacionada às manobras dos barramentos e o aumento das vazões no Alto São Francisco. A subpágina voltada para o acompanhamento hidrológico do São Francisco, a Sala de Situação, é tão somente um local para obtenção de dados, cumpre tal papel, sem ter, no entanto, características da necessária comunicação acessível a qualquer público.
Também na página da CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, a mesma situação. Em sua página interna Gestão de Recursos Hídricos há a apresentação das vazões das UHEs na bacia do São Francisco operadas pela empresa.
O padrão de ausência de notícias e informações sobre o tema desta notícia é também seguido pelo CBHSF – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Ainda menos esclarecedor é o espaço do site que se propõe a disponibilizar o Monitoramento das Vazões do Rio São Francisco num formato ainda com ainda menos acessibilidade. É apenas uma reunião de acessos (imagens com links associados).
Ao fazer o acesso na imagem da ANA, que tem formato maior que as demais, talvez para induzir o clique, a pessoa é conduzida ao sítio do SIN – Sistema Interligado Nacional que disponibiliza dados de vazões médias do dia anterior fornecidos pelo ONS – Operador Nacional do Sistema (o ente máximo do setor elétrico).
Tanto os estado de Alagoas (exemplo da página acima), como o de Sergipe (abaixo), também parecem entender que o tema de operações de barramentos não é relevante para suas populações no Baixo São Francisco. Ambos os sites não apresentam notícias recentes ou informações bem preparadas sobre o assunto.
Não seria leviano considerar que o problema de aceitação de notícias sem bases técnica, documental, ou de fontes oficiais seria favorecido pelo fato de que, até o presente, não são conhecidos planos emergenciais integrados (não haveria como separar as ações entre os estados de Sergipe e Alagoas) em caso de eventos extremos.
Planos que determinariam ações de prevenção, resposta e reparação dos impactos de uma enchente de grande magnitude sobre uma grande população que se sentiria entregue à própria sorte, desamparada, vivendo a jusante de grandes barramentos que são determinantes para o comportamento do Velho Chico em seu trecho baixo.
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Fontes: CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco; ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico; SNIRH – Sistema Nacional de Informações Sobre Recursos Hídricos