por Redação
Com o maior arrocho de redução de vazões desde agosto, o mês de outubro finda com a franca expansão de bancos de algas verdes filamentosas, flora aquática exótica que comprometem, há muito tempo, a qualidade da água ao longo do Baixo São Francisco.
As vazões mínimas praticas pela CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco na operação da UHE Xingó desde 2013, em meio ao cenário crítico da crise climática vêm contribuindo para o aumento da vulnerabilidade da saúde coletiva de parcela significativa da população difusa a jusante do barramento.
As altas temperaturas verificadas em 2020 e atualmente, adicionadas ao pouco de água que o setor elétrico concede ao rio, seus ecossistemas e populações humanas, criam situação favorável para mais um avanço de organismos invasores. As algas verdes filamentosas, as diversas espécies de flora aquática (sendo a mais representativa a elódeas, conhecida na região como “rabo de raposa”), moluscos como caramujos e mexilhão dourado encontram as condições ideais para sua propagação, em um corpo d’água de dinâmica atrofiada, sem correnteza (água efetivamente parada, nas bordas do espelho), onde há um intenso ciclo vicioso de reprodução, morte, decomposição e novas propagações dos organismos.
Sem possibilidade de extensão de suas bombas de captação para além das largas faixas de bancos de algas e flora aquática invasoras na borda do espelho d’água, as populações difusas (sem sistemas de abastecimento/tratamento de água para consumo humano) estão entregues à própria sorte, consumindo água de qualidade comprometida. Sem dúvidas há riscos quanto à situações adequadas de saúde coletiva e segurança alimentar.
São grupos que, há anos, não contam com qualquer suporte da parte de governos municipais, dos estados de Sergipe e Alagoas, do governo federal e do ministério público, configurando uma situação da mais completa invisibilidade.
O rio se estreita
Nas bordas do espelho d’água a situação é grave, uma vez que, sem correnteza (até 2012, com vazões acima de 1.300 m³/s, ainda no remanescente do padrão da vazão regularizada com a construção da UHE Sobradinho 2.060 m³/s) e sem a ocorrência do remanso (contra corrente contrária ao fluxo do rio observada nas bordas do espelho d’água), há a consolidação de largas faixas de água definitivamente “parada”.
As variações horárias das descargas da UHE Xingó promovem a intensa erosão do leito exposto do rio São Francisco, a aceleração de assoreamento, sendo ainda favorecido o avanço da vegetação terrestre invasora de transição sobre a zona hora seca, hora molhada.
A única variação de movimentação ocorre a partir das variações das vazões da UHE Xingó que, como “marés”, deslocam a borda do espelho d’água em vai-e-vem contínuo, ao longo das horas, acelerando os processos erosivo e de assoreamento nessas zonas.
Efetivamente a calha do Velho Chico, assoreada, vai sendo estreitada com a consolidação de uma falsa mata ripária que nada mais é do que uma floresta invasora dentro do rio.
A série de vídeos abaixo possibilita um exemplo resumido do quadro observado praticamente ao longo de todo o Baixo São Francisco.
Veja abaixo vídeo com situação de uma captação de água em local infestado
Veja abaixo vídeo com imagens subaquáticas das condições de acesso à água
Veja abaixo vídeo com imagens subaquáticas das condições de acesso à água
Sem controle
O verão oficial se aproxima, as águas do rio São Francisco, com vazões mínimas mantidas durante períodos consideráveis abaixo da vazão mínima da LO – Licença de Operação da UHE Xingó (700 m³/s – setecentos metros cúbicos por segundo), estão extremamente aquecidas e o quadro de ocupação da calha por organismos invasores e exóticos se agrava.
Sem quaisquer ações conhecidas de controle e erradicação, estão em franca expansão os bancos de vegetação macrófitas exóticas como as elódeas (as chamadas localmente rabo de raposa), dentre as espécies mais presentes as quais se associam algas verdes filamentosas.
A presença de macrófitas aquáticas exóticas invasoras não é recente. Remonta a no mínimo vinte anos atrás, porém nunca foram objeto de atenção não só por parte dos entes da gestão das águas (incluindo o setor elétrico) mas também dos estados de Alagoas, Sergipe e respectivos municípios ribeirinhos.
O mês de outubro foi encerrado e até o momento as vazões de 2.500 m³/s (dois mil e quinhentos metros cúbicos por segundo) anunciadas pela CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco via sua Carta Circular SOO-015/2021 (em 28/09) não foram praticadas.
Sem informações
A sociedade permanece sem informações, por parte da CHESF a respeito da não adoção das vazões maiores anunciadas em setembro. Tanto no site da empresa como nos sites da ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, do CBHSF, dos estados de Alagoas e Sergipe, bem como do IBAMA e prefeituras ribeirinhas no Baixo São Francisco não foram encontradas informações sobre o quadro real em contraposição ao anunciado.
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Fontes
CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco
ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico
SNIRH – Sistema Nacional de Informações Sobre Recursos Hídricos