No final de semana (dias 16 e 17) as vazões no Baixo São Francisco foram ainda mais reduzidas por conta de nova mudança no modelo operacional dos barramentos “como estabelece para o mês de janeiro a Resolução ANA 2081/2017”, segundo a CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco em sua carta ofício SOO 001/2021, comunicando (em 12 de janeiro) a redução das vazões [médias] de 1.050 m³/s (hum mil e cinquenta metros cúbicos por segundo) para 1.000 m³/s.
A redução das defluências da UHE Xingó desde o início de janeiro está agravando o conjunto de efeitos negativos significativos em toda a região, sobretudo quanto ao acesso à água para uso humano (potável, para cozinha, higiene familiar, agricultura familiar) das populações difusas que não contam com sistemas de captação e tratamento de água.

No Saco Grande, SE, a precária busca pela água. Foto: Carlos E. Ribeiro | InfoSãoFrancisco
Esses grupos humanos dependem de pequenas bombas que hoje se encontram na faixa de transição da lâmina d’água e do leito do rio secado e exposto: zona em ambas as margens, invadida pelas algas verdes e vegetação aquática invasoras, lama e outros organismos que, em ambiente extremamente aquecido, morre e se decompõe, alimentando um círculo vicioso de nutrientes que favorecem espécies exóticas.
Com o recuo da água, o limite técnico (as bombas e as redes elétricas nas pequenas propriedades e/ou aglomerações são incapazes de operar em grandes distâncias entre captação e reservatórios/distribuição) e financeiro (as pessoas não dispõem de recursos para o que seria uma injusta “adequação” à água que lhes sobra: compra de equipamento pesado) se impõe criando, além do grave problema de qualidade da água que foi resultante do modelo imposto, uma questão de impossibilidade de “buscar” água mais longe.

Nas Traíras, AL, um ponto de água parada é o que resta para os moradores. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr. | InfoSãoFrancisco
Entre os dias 16 e 18 tivemos, seguindo o critério unilateral do setor elétrico, operações abaixo de 1.000 m³/s (veja figura abaixo) onde as pessoas ficaram ainda mais distantes da tão necessária água.

Operações com vazões máximas abaixo de 1.000 m³/s entre os dias 16 e 18. Reprodução ANA/SNIRH

Vazões mínimas na faixa de 700 m³/s entre os dias 16 e 18. Reprodução. ANA/SNIRH
A operação de Xingó permanece praticando descargas abaixo da vazão de restrição de 1.300 m³/s estabelecido pelo PRHSF – Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.