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Rio das Velhas: matéria orgânica e esgoto sufocam peixes em Santo Hipólito

Reprodução Instagram

por Projeto Manuelzão

Vídeos registrados em município da região Central de Minas, no Médio Rio das Velhas, mostram milhares de peixes mortos acumulados na superfície e encostas do rio.


O rio dá os seus sinais quando começa a ficar sufocado pela quantidade de esgoto e degradação. Aguapés, água turva, baixa oxidação e mortandade dos peixes são alguns deles. Na segunda-feira, 25 de outubro, moradores de Santo Hipólito, município localizado na margem direita do rio das Velhas, na região compreendida pelo Médio Rio das Velhas, constataram uma grande quantidade de peixes mortos e outros buscando a superfície do rio para tentar respirar. Esses animais estão sufocados pela quantidade de esgoto e matéria orgânica que as chuvas do início do mês revolveram.

A sub-bacia hidrográfica do rio das Velhas, na bacia hidrográfica do rio São Francisco. Reprodução: CBH Velhas.

Ainda em 2021, a bacia do Velhas, que abastece 60% da Região Metropolitana de Belo Horizonte apresenta mais da metade das amostras colhidas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) com presença de esgoto doméstico e industrial. Sem contar que ao menos um terço dos esgotos da capital mineira ainda não são interceptados, indo direto para o leito dos rios, e que o postal turístico da Pampulha, a Lagoa, ainda tem 9.700 ligações domésticas não conectadas à rede coletora. Sendo assim, o rio das Velhas não permite navegar, pescar e muito menos nadar de forma salubre na maior parte de sua extensão.O surubim (Pseudoplatystoma corruscans), maior peixe de grande porte do rio São Francisco, hoje só é encontrado nos Alto, Médio e Sub-médio São Francisco. Sem proteção, no trecho baixo do Velho Chico foi dizimado, podendo ser considerado extinto, ainda que não haja a publicação oficial dessa qualificação pelos órgãos ambientais.

Até o fechamento da matéria não são conhecidas informações oficiais por parte dos órgãos ambientais de Minas Gerais, como a SEMAD – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e federal, como o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio.

O despejo de esgotos no rio gera a eutrofização, quando o curso d’água recebe um excesso de nutrientes como nitrogênio e fósforo, advindos da decomposição da matéria orgânica, efluentes de esgoto, além de pesticidas e adubos químicos usados em lavouras. Esses nutrientes são um prato cheio para plantas macrófitas aquáticas, como aguapés. Elas começam a competir por oxigênio com a vida aquática, além de impedir a entrada de luz solar abaixo da superfície. Os peixes, que tentam resistir, vão desesperados à superfície procurando por oxigênio e acabam morrendo, piorando o cheiro de putrefação nas margens e leitos.

Os aguapés, assim como o oxigênio dissolvido, coliformes termotolerantes (bactérias presentes no intestino e fezes humanas), pH, demanda bioquímica de oxigênio, nitrato, fosfato total, variação da temperatura da água, turbidez e sólidos totais são condições para se medir o Índice de Qualidade das Águas. A Agência Nacional das Águas também indica outros parâmetros de avaliação como: índice de metais pesados, pesticidas, compostos orgânicos, protozoários patogênicos (que causam doenças parasitárias) e substâncias que interferem nas propriedades organolépticas (perceptíveis pelos sentidos) da água.

Uma importante forma de identificar o nível de degradação de um rio é o biomonitoramento. O peixe é então um bioindicador. O estudo de ictiofauna mostra a quantidade e diversidade de peixes na calha e afluentes como um sinal de estabilidade ou instabilidade ambiental. Nas amostragens, são analisadas a distribuição, riqueza, diversidade e isótopos estáveis que indicam compostos orgânicos provenientes da poluição nos tecidos de peixes. Outra metodologia de biomonitoramento levada bem a sério pelo Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas é o Monitoramento Ambiental Participativo (MAP), que como o nome revela conta com a realização de oficinas e atividades socioambientais.

Confira a matéria sobre Biomonitoramento da Revista Rio das Velhas do CBH Velhas para entender todo o processo.

Infelizmente, várias localidades do Médio e Baixo Rio das Velhas têm de conviver com a realidade de mortandade de peixes nos meses de outubro e novembro porque as primeiras chuvas da primavera aumentam as correntezas, que misturam toda aquela matéria orgânica depositada no fundo dos rios. Os microorganismos, tapetes de vegetação superficiais e peixes começam a competir por oxigênio causando a morte dos aquáticos escamados.

É o que mostram os registros de moradores de Santo Hipólito desta segunda-feira. Por hora, o CBH Rio das Velhas está acompanhando o caso por meio da sua equipe de biomonitoramento da ictiofauna e qualidade da água. Não obstante, é importante apontar os nomes responsáveis pela estrutura de saneamento da bacia, capacidade de ampliação da interceptação e tratamento dos efluentes de esgoto, incumbência administrativa e pública dos municípios e da Copasa.

Confira abaixo a entrevista concedida pelo coordenador do Projeto Manuelzão, Marcus Vinícius Polignano, ao programa Balanço Geral da Record Minas a respeito da mortandade de peixes em Santo Hipólito:


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Fontes: Projeto Manuelzão