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IPHAN é acionado em razão da situação crítica da canoa Luzitânia

por InfoSãoFrancisco

Sem resposta da parte do órgão federal em seguida às inúmeras demandas de realização de uma ação de resgate emergencial da canoa Luzitânia, foi realizada a judicialização do conflito pela Sociedade Canoa de Tolda, há mais de vinte anos proprietária da embarcação histórica.


A cena da bela canoa Luzitânia naufragada na Reserva Mato da Onça, no alto sertão alagoano do Baixo São Francisco ainda é uma dura realidade ao final da tarde de hoje.

Sem qualquer movimentação conhecida com o objetivo de um resgate emergencial, a embarcação histórica tem agravado o seu quadro que implica, a cada momento, em mais riscos para um bem móvel tombado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional considerado de relevância única no patrimônio cultural naval brasileiro e internacional.

O extremo da situação levou a Sociedade Canoa de Tolda, proprietária da embarcação desde 1999, a mover uma ACP – Ação Civil Pública com Pedido de Liminar de Tutela de Urgência, na 3ª. Vara da Justiça Federal em Sergipe, processo no. 0800503-51.2022.4.05.8500.

De acordo com Sociedade Canoa de Tolda, o IPHAN tem ciência da situação de vulnerabilidade da canoa Luzitânia desde o dia 11 de janeiro, quando a CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco emitiu aviso sobre a elevação das vazões da UHE Xingó, em decorrência da adoção das Regras de Controle de Cheias (a ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico formalizou a Situação de Cheia na Bacia do Rio São Francisco).

“Desde o início das operações da CHESF temos alertado o IPHAN, com envio de ofícios formais, protocolados à sua presidência que, lamentavelmente, não respondeu a qualquer documento”, explica Carlos Eduardo Ribeiro Jr., membro da Canoa de Tolda, tripulante da Luzitânia e um dos responsáveis pela sua conservação, que prossegue, declarando que foi atingido o limite “físico, e de recursos que não temos suficientes. Sem qualquer outra opção para o salvamento da Luzitânia, que significa um esforço de mais de vinte anos, tivemos que acionar a justiça. Seria ainda mais lamentável o IPHAN recorrer da ação, negando o socorro à canoa.”

“Essa embarcação é uma verdadeira riqueza, um tesouro da cultura popular brasileira, a Canoa de Tolda Luzitânia é a última que existe no rio São Francisco, no Brasil e no mundo. E ela é um verdadeiro dicionário de soluções técnicas de maneiras de construir barco, de navegar sobre um rio como o São Francisco.

É de valor inestimável. É preciso cuidado porque a Canoa não foi feita para ficar embaixo da água, foi feita para navegar…”

Dalmo Vieira Filho, pesquisador da tradição naval brasileira e co-fundador do Museu Nacional do Mar

Foto: Nilton Souza

O caso da canoa Luzitânia ganhou espaço no noticiário nacional o que tem provocado um maior interesse sobre o caso e as questões sociambientais e culturais do Velho Chico.

A expectativa é de que a ACP produza uma liminar favorável, como explica Jane Tereza Vieira da Fonseca, advogada do escritório Jane Tereza Advocacia e Consultoria que coordena a equipe que elaborou e apresentou a demanda representando entidade não governamental: “A ação foi promovida no Judiciário porque é o último mecanismo para tentar salvar a Luzitânia uma vez que o IPHAN não cumpriu seu papel de preservação e conservação do bem tombado. O objetivo é fazer com que o réu seja obrigado a trasladar, a um local seguro, a canoa Luzitânia, e com guarda, proteção e preservação patrimonial asseguradas.”

Com o anúncio de possíveis mudanças nas operações da UHE Xingó para o dia 1º. de fevereiro próximo, o tempo é curto para que ações concretas sejam postas em prática de modo a garantir o urgente salvamento da canoa Luzitânia.

A canoa Luzitânia naufragada na Reserva Mato da Onça. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco

Jerônimo Basílio, também coordenador da equipe de advogados, completa deixando claro que a cada hora a situação é desfavorável para o salvamento da bela embarcação: “Já despachamos com o juiz da 3a Vara Federal, Dr. Edmilson Pimenta, e explicamos a situação, a premência do tempo com aumento das vazões anunciadas para o dia 1º de fevereiro, e estamos esperançosos de que saia uma liminar em pouco tempo. Sem a ação. Não vislumbramos a possibilidade de salvar a Luzitânia”

Até o fechamento da matéria, não era conhecida posição do IPHAN e a canoa Luzitânia ainda se encontrava naufragada na Reserva Mato da Onça.


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Fontes: Canoa de Tolda; Jane Tereza Advocacia e Consultoria