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Estado de Alagoas sem plano de emergência para o Baixo São Francisco

A várzea da Boacica, quando alagada, um mar interior. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco

por Carlos Eduardo Ribeiro Jr. | InfoSãoFrancisco

A SEMARH – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas não apresenta plano preventivo integrado e de ações emergenciais em caso de enchentes no Baixo São Francisco.


O quadro de Situação de Cheias na bacia Hidrográfica do Rio São Francisco foi formalizado no dia 11 passado e até o momento não é conhecida a existência de um plano de emergência integrado para todo o Baixo São Francisco de modo a amparar a população – em particular a difusa, que habita pequenos povoados e localidades isoladas ao longo das margens – com ações preventivas e de resposta ao(s) evento(s).

Em 29 de dezembro passado o InfoSãoFrancisco publicou matéria sobre a inexistência, no estado de Sergipe, de um Plano de Emergência para o Baixo São Francisco.

Seguindo exatamente o mesmo procedimento adotado para Sergipe, em primeira instância o InfoSãoFrancisco realizaou pesquisa nos sítios eletrônicos do estado de Alagoas onde não foram encontradas quaisquer informações referentes a um possível (e necessário) Plano de Emergência para cheias na margem alagoana do Baixo São Francisco.

Numa segunda etapa, foi realizada manifestação formal ao estado de Alagoas através do serviço público online E-Sic Alagoas, protocolo no. 2065/2021 tendo como demanda:

Plano de emergência para o Baixo São Francisco em caso de eventos extremos (cheias do rio São Francisco) na região.

A resposta foi elaborada pela SEMARH – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos que, não seguindo o tema preciso da demanda, o Plano de Emergência, fornece apenas um link do Relatório Mapeamento das Áres Inundáveis nas Margens do Rio São Francisco no Trecho Reservatório de Xingó e a Foz, produzido pela CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco.

A SEMARH ainda argumenta que sendo rio São Francisco por ser de domínio da União, caberia à ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico a responsabilidade “pela gestão dos recursos hídricos na referida bacia hidrográfica, inclusive pela divulgação de informações”.

Veja a íntegra da resposta da SEMARH-Alagoas

Reprodução: SEMARH-Alagoas

A escolha da SEMARH

O documento curiosamente classificado pela SEMARH de Alagoas em sua resposta, como algo próximo a um Plano de Emergência, é um documento a ser analisado com grandes ressalvas, mesmo se observado tão somente tendo como interesse preciso o Mapeamento das Áreas Inundáveis a jusante da UHE Xingó.

Apesar dos recursos e da tecnologia alocados para a pesquisa e elaboração do relatório, o Relatório de Mapeamento das Áreas Inundáveis nas Margens do Rio São Francisco no Trecho Reservatório de Xingó e a Foz, é pontual, ignorando a grande população que vive ao longo das margens entre o barramento e a foz do rio São Francisco.

O documento, lamentavelmente não sendo inclusivo, favorece a normalização de um grande “vazio cartográfico” que orienta – de forma inadequada – as operações do setor elétrico comandadas pelo ONS – Operador Nacional do Sistema, uma vez que onde a população difusa, para todos os efeitos, “não existe” nas simulações de planejamento das manobras com os barramentos.

Parte de apresentação do ONS em reunião da ANA (Sala São Francisco) em 12/01/2022. As zonas rurais predominantes no Baixo São Francisco não são mencionadas. Reprodução: ONS

O relatório da CHESF também não apresenta alguma referência de simulação para cheias muito maiores do que a vazão máxima considerada no estudo: os 8.000 m³/s (oito mil metros cúbicos por segundo).

Um breve histórico das cheias mais elevadas e recentes na bacia do Velho Chico. Reprodução: CHESF

Ainda que tendo como referência de descarga máxima a vazão de restrição 8.000 m³/s – visão talvez otimista, com o planeta em profundas mudanças climáticas –, o Relatório não contém a poligonal precisa da área suscetível de alagamento em ambas as margens, o que possibilitaria a identificação e mapeamento da população em zonas de variados riscos e, naturalmente, a elaboração de um preciso Plano de Emergência para o Baixo São Francisco.

O estudo estabelece como zonas de atenção prioritária as cidades de Piranhas, Pão de Açúcar, Traipu, Propriá e o balneário da Telha. Todas as demais áreas a jusante da UHE Xingó e indo até a foz não são contempladas, em particular Piaçabuçu, em Alagoas, e Brejo Grande, em Sergipe. Estas duas derradeiras cidades, a aproximadamente 12km da boca da barra, estão a poucos metros acima do nível do mar, em zona de grande possibilidade de inundação.


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Fontes: SEMARH-AL


Sobre o autor

Carlos Eduardo Ribeiro Junior

Co-criador do InfoSãoFrancisco e coordenador do projeto.