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Acesso à água em risco: contrariando programação divulgada, vazão no Baixo São Francisco chega a 1.191 m³/s

Ilustração: InfoSãoFrancisco, com foto divulgação/CHESF

por InfoSãoFrancisco

De forma confusa, sucessão de comunicados de operação de barramentos não conferem com informações inicialmente divulgadas, causam transtornos e contradizem a vazão real, que é significativamente menor.


O mês de março chega ao seu final com o término do chamado período úmido oficial para a bacia hidrográfica do rio São Francisco e com ele, uma amostra do que [possivelmente] poderão ser os próximos meses nas operações de barramento que tanto afetam o Baixo São Francisco: um eventual período de vazões não exatamente dentro da expectativa das populações ribeirinhas a jusante da UHE Xingó.

O quadro na segunda feira, vazão de 1.191,05 m³/s: embarcações no seco, bomba na lama. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr/InfoSãoFrancisco

Afinal, consultando as informações disponíveis no sítio eletrônico da ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, temos Sobradinho com cerca de 96% de seu volume, com afluências consistentes da ordem de 5.770 m³/s, Itaparica com 58,19 % e o sistema operando em situação NORMAL de acordo com a Resolução ANA 2.081/2017 (já comentada pelo InfoSãoFrancisco).

A perspectiva de um panorama onde a tônica seria a volta ao torniquete hídrico pode encontrar terreno fértil para sua propagação a partir da embaralhada comunicação da CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco sobre as operações dos barramentos a partir das determinações do ente máximo, onipresente, mas desconhecido da maior parte da população, o ONS – Operador Nacional do Sistema.

Porém, nos últimos dias, confusão entre anúncios e vazões reais observadas (e obtidas no SNIRH – Sistema Nacional de Informações Sobre Recursos Hídricos) mostram que a rotina das dores de cabeça provocadas pelas variações horárias da UHE Xingó estão aí, no cotidiano abaixo da barragem.

Para todos os efeitos, no fechamento desta matéria, a vazão defluente da UHE Xingó estava em exatos 1.191,05 m³/s (hum mil cento e noventa e um metros cúbicos por segundo, num total de treze horas do período com vazões abaixo de hum mil e quinhentos metros cúbicos por segundo), valor um tanto distante de certos 1.800 m³/s anunciados na data de ontem (27).

Hidrograma: SNIRH/ANA

Deve ser tomada como [alguma] referência a programação inicial apresentada pelo ONS – Operador Nacional do Sistema, na 4ª. Reunião da Sala de Acompanhamento do Sistema Hídrico do Rio São Francisco organizada pela ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, no último dia 8 de março (ver imagem abaixo): 3.000 m³/s até o dia 31 de março.

Reprodução: ONS

Já a CHESF, no dia 18 passado, tendo como justificativa a necessidade de recuperar o estoque no reservatório de Itaparica, anunciou uma nova programação com sua Carta Circular SOO-017/2022, com recuo da vazão na UHE Xingó para 2.000 m³/s (no dia 24 passado)como apresentado abaixo, com critérios de manutenção “até nova avaliação“.

As previsões de defluências pelo ONS. Reprodução: ONS
Reprodução: CHESF

Porém, novamente, no sábado, dia 26, desta vez pelo sistema de SMS, a CHESF volta a modificar a programação com nova redução dos 2.000 m³/s definidos no dia 18, para 1.500 m³/s a serem aplicados no domingo (27).

Reprodução: Whatsapp

Na verdade, durante o período do dia claro de domingo, muitas pessoas se viram às voltas com vazões bem abaixo de 1.500 m³/s que criaram complicações pequenos sistemas de captação de água para consumo humano ou pequenos plantios atolados na lama. Foi afetada ainda a mobilidade pelo fato de estarem muitas de suas embarcações em terra.

Sem tempo de um respiro, ontem (27), novo SMS da CHESF, agora anunciando uma elevação para 1.800 m³/s na segunda-feira (hoje, 28), que até o fechamento da matéria eram apenas um sonho de final de verão.

Reprodução: Whatsapp

Ainda sem tempo para baixar a poeira (ou a lama), nova embaralhada no diz que sobe, diz que baixa das vazões, com o recebimento de (mais uma!) comunicação da CHESF, a Carta Circular SOO-020/2022, onde tudo o que foi dito até ontem, ao que parece, está fora do jogo: as vazões (nos dias úteis) ficarão “no entorno de 2.000 m³/s”.

Não está especificado o valor do “entorno de 2.000 m³/s”, exatas vazões mínimas, exatas vazões máximas: informação de totais pertinência e interesse público para a população afetada pelas operações da UHE Xingó, algo que um sistema tão sofisticado como o de controle das defluências não possa gerar com facilidade e precisão.

Afinal, seria a informação do “entorno de 2.000 m³/s” um componente supérfluo na imprescindível obrigação de um transparente e eficaz procedimento de comunicação das empresas públicas?

Até o fechamento da matéria não eram conhecidas reações relacionadas ao caso da parte dos governos de Alagoas e Sergipe, bem como dos municípios ribeirinhos e sociedade civil no Baixo São Francisco.

Fontes: CHESF; ANA/SNIRH


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