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MapSãoFrancisco: HOT capacitará equipe no uso de geotecnologias abertas para mapeamentos no Baixo São Francisco

Composição: InfoSãoFrancisco

por InfoSãoFrancisco

Cooperação internacional com o HOT – Humanitarian OpenStreetMap Team permitirá ao MapSãoFrancisco a formação de equipe local multiplicadora para o desenvolvimento das ações de mapeamento colaborativo da iniciativa.


Gradativamente o MapSãoFrancisco vai avançando em sua estruturação para poder desempenhar, com os melhores procedimentos técnicos e de atendimento às necessidades da sociedade do Baixo São Francisco, seus objetivos de mapeamento de populações em situação de injustiça socioambiental.

De forma paralela ao mapeamento das lagoas e várzeas marginais intermitentes, primeira fase do mapeamento das populações em zonas de risco de alagamento na região, o MapSãoFrancisco está investindo na capacitação de sua equipe para as próximas etapas: varredura aérea com drones (produção de mosaico de imagens) para a modelagem digital de terreno (a chamada “batimetria seca” da planície de inundação do rio) e posterior simulação de enchentes.

Populações em zonas de risco de inundação no Baixo São Francisco. Imagem/gráfico: InfoSãoFrancisco

A simulação de vazões diversas além da vazão padrão das cheias no Baixo, os 8.000 m³/s (oito mil metros cúbicos por segundo) da vazão máxima autorizada para a operação dos barramentos, permitirá o desenho das poligonais de alagamento dentro das quais vive numerosa população humana.

Através de cooperação internacional da Sociedade Canoa de Tolda com o HOT – Humanitarian OpenStreetMap Team, nos próximos dias o MapSãoFrancisco receberá uma equipe da organização que virá ao Baixo São Francisco para atividades de capacitação local a exemplo de projetos semelhantes realizados em rios na Tanzânia, Zâmbia e Moçambique.

Exemplo de atividade de levantamento batimétrico. Gráfico: Sten Schurer/Miguel Trejo para atividades de capacitação

Segundo os organizadores da iniciativa, um dos compromissos assumidos pelo MapSãoFrancisco como contrapartida à capacitação do HOT é a replicação do conhecimento adquirido, para que seja formada no Baixo São Francisco uma rede comunitária tecnológica/cidadã nativa, independente, aberta e irradiadora de conhecimento e práticas semelhantes, evolutivas.

Como explica Carlos Eduardo Ribeiro Jr., membro da Canoa de Tolda e um dos coordenadores do MapSãoFrancisco, “acreditamos que as atividades de capacitação que teremos nos próximos dias sejam um evento inédito, ao menos aqui no Baixo São Francisco, pelo potencial de empoderamento de pessoas ditas comuns, que terão acesso a geotecnologias de ponta. O fato de estarmos na periferia do Brasil e dos estados de Sergipe e Alagoas não significa que não possamos desenvolver aptidões e competências a partir de processos educativos empoderadores até então não acessíveis, principalmente pelo equivocado mito de que a boa ciência, a alta tecnologia, não estariam ao nosso alcance.”

Exemplo de modelagem de levantamento batimétrico. Gráfico: Sten Schurer/Miguel Trejo para atividades de capacitação

A equipe do HOT que chegará ao país será coordenada por Marina Aragão, responsável da organização para atividades de campo no Brasil e gestora do projeto com o MapSãoFrancisco, e contará com dois hidrólogos. São especialistas envidados pelo HOT com experiência em trabalhos de transferência de tecnologias abertas (seguindo o conceito de ciência/tecnologias cidadãs inclusivas para empoderamento de populações insuficientemente atendidas pela gestão pública) relacionadas à água, enfrentamento à crise climática, desastres ambientais e segurança alimentar em diversos outros países.

Miguel Trejo. Foto: acervo pessoal

“Com a minha participação no projeto espero contribuir e dar suporte nas atividades de estimativa de áreas que estão expostas a enchentes no trecho baixo da bacia do rio São Francisco. É fundamental que haja mais preparação e planos de ação que possam ser implementados para fortalecer o enfrentamento a situações de cheias na região onde a Canoa de Tolda, nossa parceira, está atuando.”, considera Miguel Trejo, um dos hidrólogos do HOT que estará nas atividades no Baixo São Francisco.

As atividades de campo dessa primeira preparação da equipe do MapSãoFrancisco ocorrerão na região dos municípios de Pão de Açúcar, Piranhas e Belo Monte, em Alagoas, e Canindé do São Francisco, Poço Redondo e Porto da Folha em Sergipe. O objetivo geral é formar uma equipe local tanto apta a prosseguir com ambicioso projeto e ainda capaz de retransmitir os conhecimentos adquiridos.

Sten Schurer. Foto: acervo pessoal

A formação de pessoas da comunidade também é reforçada por Sten Schurer, também hidrólogo consultor do HOT para os projetos do MapSãoFrancisco, “O treinamento e a educação são o objetivo principal, portanto, é importante que todas as atividades de campo a seguir sejam realizadas em colaboração. Sempre que possível, o trabalho de campo deve ser realizado pelos membros da organização com o apoio dos instrutores quando necessário. Antes e durante o trabalho de campo, serão escritos guias para iniciantes, para uso do equipamento, que ajudarão os participantes a continuar o trabalho de campo posteriormente.”

Outro benefício a ser considerado com as capacitações do MapSãoFrancisco, uma vez que todo o conhecimento produzido pela iniciativa é aberto e disponível de forma gratuita, é a produção de material técnico e didático em português, que será disponibilizado gratuitamente, para qualquer pessoa, a medida em que for produzido. A documentação abordará, de forma específica, informações técnicas e práticas para os levantamentos de terreno no Baixo São Francisco que poderão, sem maiores problemas, ser aplicados em outros rios e regiões do Brasil.

O mapeamento das populações em zonas de risco em todo o Baixo Sã Francisco é, sem qualquer dúvida, além de urgente, um desafio ambicioso que exigirá empenho e, sobretudo, adesão dos mais diversos segmentos da sociedade e da gestão pública face aos reais risco aos quais a região está submetida.

“A busca do conhecimento para, com empoderamento de inúmeros processos, melhor sobreviver é consequência óbvia da ausência do poder público ao não cumprir seu papel: no caso, a implantação de um plano integrado para o Baixo São Francisco para enfrentamento a eventos extremos como estiagens prolongadas, enchentes e elevação do nível do mar. Poderíamos dizer que estamos formando uma equipe de base, aglutinadora, irradiadora e multiplicadora de contra especialistas, expressão cujo significado de forma alguma deve ser interpretado como a nomenclatura de gentes antagônicas aos especialistas. Estamos, justamente, buscando a formação de uma comunidade de contra especialistas primeiramente em sobrevivência a um ambiente hostil, onde o rio teve sua água retida, e enfrentamento à crise climática,” conclui Carlos Eduardo.

O MapSãoFrancisco é uma iniciativa da Canoa de Tolda e InfoSãoFrancisco que conta com a cooperação técnica do HOT – Humanitarian OpenStreetMap Team e da UFAL – Universidade Federal de Alagoas através de seu curso de Engenharia de Pesca com o IMAP – Laboratório de Investigação e Manejo da Pesca, em Penedo, Alagoas.

Fontes: MapSãoFrancisco; Canoa de Tolda; HOT – Humanitarian OpenStreetMap Team


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