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Mexilhões dourados no Baixo São Francisco: Instituto do Meio Ambiente de Alagoas é solicitado a tomar providências

Mexilhões dourados na RPPN Mato da Onça. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr.

por InfoSãoFrancisco

Com a infestação dos moluscos exóticos e invasores no Baixo São Francisco causando mais e maiores problemas a cada dia, a RPPN Mato da Onça solicitou ao órgão ambiental de Alagoas ações voltadas para o enfrentamento do organismo.


O cotidiano da população ribeirinha no Baixo São Francisco, já atribulado pela pouca água correndo no Velho Chico a partir das determinações do setor elétrico, desde 2016 tem mais um componente que, progressivamente, constrói um colapso ecossistêmico e prejudica ainda mais o acesso à água: a contaminação do rio pelo mexilhão dourado (Limnoperna fortunei) um molusco asiático que hoje ocupa todo a região, com colônias proliferando em grande velocidade.

Sem que sejam conhecidas ações de enfrentamento, monitoramento e erradicação do invasor, o quadro de meio ambiente insalubre – situação que contraria o artigo 225 da Constituição brasileira – afeta inclusive iniciativas de conservação ambiental, como é o caso da RPPN Mato da Onça, um projeto da Sociedade Canoa de Tolda em Pão de Açúcar, município no alto sertão alagoano.

Sendo uma das seis únicas Unidades de Conservação às margens do rio São Francisco em seu trecho baixo, a RMO – Reserva Mato da Onça, como é conhecida, contribui para os insuficientes 2% de áreas protegidas do bioma caatinga com um bem sucedido programa de restauro de caatingas e produção de mudas nativas, o Caatingas – Meta 2035, lançado em 2015. Para suprir as necessidades de seus plantios, a RMO conta com um viveiro de mudas nativas e um grande sistema de irrigação para aguar mudas plantadas em diversas áreas, ambos atendidos por captação de água movida bombas elétricas alimentadas com energia solar.

Mexilhões dourados na RPPN Mato da Onça. Foto: Carlos Eduardo Ribeiro Jr.

A questão dos impactos causados pelo mexilhão dourado, além da destruição de ecossistemas aquáticos, está diretamente relacionada com a recuperação de caatingas e operação do viveiro de mudas nativas da RMO. O molusco invasor se instala (e passa a se propagar) nas válvulas das bombas de captação, nas linhas de adução, nas caixas d’água e nas redes de distribuição causando interrupção no abastecimento de água e mesmo danos aos equipamentos.

De acordo com um dos gestores da Reserva Mato da Onça, Carlos Eduardo Ribeiro, membro da Sociedade Canoa de Tolda, “o quadro do mexilhão dourado na Reserva, assim como no Baixo, é cada vez mais grave, pois o organismo vem, desde 2016 e apesar do intenso monitoramento que realizamos, ocupando todos os espaços das redes de captação e distribuição de água. As válvulas das bombas são obstruídas, há proliferação dos mexilhões dentro das caixas d’água e também nas redes de irrigação e distribuição da sede. São situações que inviabilizam tanto atividades humanas indispensáveis como as da Reserva.”

Cabe lembrar que, em 2016, a Canoa de Tolda emitiu dois alertas dos primeiros registros do mexilhão dourado no Baixo São Francisco, além de encaminhar documentação comprobatória e solicitação de providências para todos os órgãos da gestão do São Francisco. “

“Nenhuma ação prática foi realizada desde então” continua Carlos Eduardo, acrescentando o fato de que “na última semana quase ocorreu a queima de uma bomba, cuja válvula foi obstruída pelos mexilhões impedindo a passagem de água. As zonas rochosas na poligonal da Reserva e no seu entorno estão repletas de mexilhões dourados, sendo impossível, para nós, sem recursos, sua remoção. Em breve toda a rede da Reserva estará completamente obstruída. E quem irá pagar a conta de sua substituição?”

No limite de seus esforços, já insuficientes, para controlar os mexilhões na RPPN Mato da Onça, a Canoa de Tolda formalizou ao IMA – Instituto do Meio Ambiente de Alagoas, demanda de inspeção no local para que sejam analisados os impactos da infestação do molusco na Unidade de Conservação. A organização solicitou ainda providências urgentes ao órgão ambiental para a erradicação das colônias de organismos invasores na Unidade de Conservação e seu entorno.

Os problemas do mexilhão dourado vão além dos impactos causados pela sua presença na região, como a busca por soluções de erradicação que implicam em risco de consequências para ecossistemas aquáticos e seres humanos, como explica Carlos Eduardo. “Há um problema claro de não respeito ao meio ambiente equilibrado, saudável, que cabe à população do Baixo São Francisco. A infestação do mexilhão dourado é um exemplo concreto de meio ambiente insalubre. As pessoas aqui na região estão entregues à própria sorte e ainda com o risco de serem impactadas por soluções extremas. Veja o caso da CHESF, que obteve do IBAMA autorização para uso de produtos químicos de alto risco para a eliminar os moluscos na hidrelétrica de Xingó, tudo sem discussão ampla, pública, como isso é possível?”

De fato, o InfoSãoFrancisco publicou matéria sobre ação isolada da CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco para a erradicação de mexilhões dourados na hidrelétrica de Xingó. A empresa, com autorização do IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, decidiu combater os moluscos com o emprego de produtos químicos considerados pelo próprio órgão licenciador como “altamente perigoso ao meio ambiente e extremamente tóxico”.

Com as demandas encaminhadas ao IMA, os gestores da RPPN Mato da Onça criam alguma perspectiva para uma solução adequada não só para a Unidade de Conservação mas também para todo o Baixo São Francisco, uma vez que a expansão do mexilhão dourado está sem qualquer controle.

“Vamos aguardar a vinda do IMA, o processo está aberto, mas cada dia que passa sem uma ação consistente, de enfrentamento ao bicho e também de suporte à população significa perda de espaço para o mexilhão dourado que irá ocupar cada fresta em rochas, pedras, redes de abastecimento de água: o custo social, ambiental e econômico já é um escândalo”, conclui Carlos Eduardo.

O InfoSãoFrancisco fez contato com o IMA para que tivesse a devida oportunidade de manifestar-se sobre o assunto. Até o fechamento da matéria não foi recebida resposta da parte do órgão.

Fontes: Canoa de Tolda


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