BACIA DO SÃO FRANCISCO | IMPACTOS DE BARRAGENS
REDAÇÃO
De acordo com análise do hidrogeólogo José do Patrocínio Tomaz Albuquerque, a implantação da UHE Formoso terá impactos significativos no regime do Velho Chico, reduzindo ainda mais as vazões defluentes médias
Em 29 de maio passado publicamos o artigo Bolsonaro assina decreto para construção da UHE Formoso em Pirapora, MG, que foi replicado no blog de João Suassuna, pesquisador da FUNDAJ – Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, PE.
No mesmo blog, ocorreu a contribuição de José do Patrocínio Tomaz Albuquerque, hidrogeólogo e consultor, que abaixo transcrevemos na íntegra:
O presidente publicou no D.O. o referido decreto autorizando a construção de nova hidrelétrica no leito do rio São Francisco, em Pirapora, denominada de Formoso, para gestão em parceria público privada. Estão no aguardo dos procedimentos de liberação pelo MMA (Ministro Salles, professor não sei de que, na USP). Argumentam que o novo reservatório (fica ente os dois maiores do Brasil, Três Marias e Sobradinho) aumentará a vazão de regularização no trecho em, pelo menos, 20 m³/s.
No meu entender, vão é diminuir a capacidade de regularização do que existe de reservatórios a jusante de Formoso, já que Sobradinho utiliza toda a vazão média de longo período disponível afluente que conta com a defluência média de longo período de Três Marias.
Essa vazão média anual, dada em m³/s, interceptada pela barragem, armazena, durante o período chuvoso de 1 (um) ano, exatamente, os 34 bilhões que é a capacidade máxima projetada para Sobradinho (no caso de rios efêmeros, o reservatório é projetado para armazenar 2 (dois) anos de vazão média anual de longo período).
Considerando as perdas por evaporação e outras, todas expressas em termos de vazão média de longo período obtém-se a vazão regularizada pelo reservatório.
Aliás, os reservatórios Três Marias e Sobradinho já não regularizam as vazões firmes para as quais foram construídos, tanto que os órgãos gestores (CHESF, ANA, etc.) já não trabalham com vazões 100% garantidas as chamadas vazões firmes. Trabalham com volumes acumulados como se o rio fosse efêmero e não perene. A razão: o consumo da vazão de base suprida pelos aquíferos integrantes da bacia sedimentar homônima, na parte situada a montante e que, sem dúvida, reduzirá a vazão de jusante, devido às perdas por evaporação causadas pelo novo reservatório. Esse consumo da vazão de base entre Três Marias e Sobradinho continuará nos períodos de estiagem normal e nas prolongadas (as secas) sendo reduzida pela exploração de poços tubulares e pelas captações “a fio d’água”.
A barragem de Formoso, ao interceptar a vazão afluente a Sobradinho a diminuirá, já que ela não soltará a vazão captada devido as perdas por evaporação na superfície livre desta barragem. Portanto, o novo reservatório não aumentará a vazão de regularização. Ao contrário, a reduzirá a jusante e Sobradinho sofrerá as consequências que se estenderão aos reservatórios por ela alimentados, reduzindo a vazão média.
Fonte
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◊ Imagem em destaque – Montagem Doc IBAMA/Divulgação – Quebec Engenharia