por Redação
Com mínima antecipação, a CHESF – Companha Hidro Elétrica do São Francisco comunica mudança no padrão operacional de descargas da UHE Xingó que terá vazões maiores em outubro e novembro.
Como antecipado pelo InfoSãoFrancisco em matéria publicada no dia 13, as vazões defluentes da UHE Xingó passarão, no mês de outubro, da média mensal de 1.500 m³/s (hum mil e quinhentos metros cúbicos por segundo) para a média de 2.500 m³/s.
A confirmação das mudanças para outubro , com antecipação questionável, foi veiculada pela CHESF através da Carta Circular SOO-015/2021.
Veja abaixo o comunicado na íntegra
A CHESF justifica o incremento da vazão para atender às demandas do ONS – Operador Nacional do Sistema, de modo a exportar energia para as regiões afetadas pela chamada crise hídrica.
Um pouco mais de água, mas longe do ideal
Sem qualquer componente ambiental na operação, no entanto, o aumento da vazão terá algum benefício, breve, para os já extremamente comprometidos ecossistemas aquáticos e ripários no Baixo São Francisco.
Os cerca de dois meses com um pouco mais de água não seria suficientes para alguma recuperação (como comprovaram os dados obtidos e publicados pela organização da 3a. Expedição Científica realizada pela UFAL – Universidade Federal de Alagoas ao final de 2020) de um rio com passivo de mais de quarenta anos de barramentos.
Porém, alguns efeitos poderão ser observados durante o período que não deve ser erroneamente considerado como uma “cheia”, lembrando que a vazão regularizada com a construção da UHE Sobradinho tinha o valor de 2.060 m³/s.
No gráfico abaixo é mostrada representação comparativa dos volumes dos reservatórios da bacia do São Francisco para o dia 22 de setembro:
A situação dos reservatórios que temos no momento, enquadram o chamado "Sistema São Francisco" na situação de operações sob a situação Atenção, de acordo com a Resolução ANA 2081/2017 cujo infográfico pode ser visto abaixo:
Muita informação, pouca divulgação
Ainda com referencia às reuniões do sistema de gestão das águas do São Francisco, é necessária a ciência de que as novas defluências das UHEs Sobradinho e Xingó para outubro e novembro foi tema discutido na 8a Reunião da Sala de Acompanhamento do Sistema Hídrico do Rio São Francisco, organizada pela ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico em 08 de setembro de 2021, quando o ONS apresentou seu modelo operativo para os barramentos do São Francisco.
Em sua modelagem, o ONS, citando atendimento à resolução da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética – CREG, definiu claramente o que seriam as operações dos barramentos em outubro e novembro próximos, conforme o formalizado hoje pela CHESF.
Portanto, as operações confirmadas hoje pela CHESF, não são novidade para órgãos diversos de diversas esferas. Na reunião do dia oito, os diversos entes do sistema de gestão das águas do Velho Chico estavam presentes, porém, por razões desconhecidas, não divulgaram ampla e rapidamente as informações, proporcionando a preparação preventiva das numerosas populações difusas ao longo de todo o Baixo São Francisco.
Como também noticiado pelo InfoSãoFrancisco, nos dias 21, 22 e 23 a CHESF promoveu um “pico” de vazão de 2.777 m³/s, sem divulgação ampla e antecipada, causando transtornos e prejuízos, inclusive de bem histórico tombado pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico Nacional.
As elevações dos dias 21 a 23 foram precedidas por um pico e violenta redução no último dia nove de setembro. Na ocasião o InfoSãoFrancisco noticiou o pico de vazão de 2.189,12 m³/s, que despencou para 717,28 m³/s provocando situações indesejáveis, como embarcações encalhadas no leito secado do rio ou ainda sistemas de captação de água de populações difusas enfrentando complicações .
Sistema São Francisco, ainda rio São Francisco?
Na seção esquemática do rio São Francisco em seu trecho baixo, temos a série de variações de vazões impostas pelo setor elétrico a partir de 2013.
A situação se agrava com o estabelecimento de vazões médias ao invés de mínimas, ampliando a grande variação entre os picos mínimos e máximos, em questão de algumas horas, ao longo do dia.
Com a retirada da vazão mínima de 1.300 m³/s do Plano de Bacia pelo CBHSF - Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco em 2016, foi entregue, ao setor elétrico, a almejada vazão mínima de restrição de 700 m³/s, normatizada pela Resolução ANA 2081/2017 e, finalmente, sacramentada pela atualização da LO - Licença de Operação da UHE Xingó (cuja vazão de restrição mínima foi reduzida de 1.300 m³/s para 700 m³/s pelo IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
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Fontes
ONS - Operador Nacional do Sistema
Canoa de Tolda - Sociedade Socioambiental do Baixo São Francisco
ANA - Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico
SNIRH – Sistema Nacional de Informações Sobre Recursos Hídricos