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Alemanha combate calor e poluição com bebedouros públicos

por Helen Whittle | DW Brasil

País usa por hora 2 milhões de garrafas plásticas, ou 17,4 bilhões por ano – um absurdo ambiental. Também diante dos verões cada vez mais quentes, Berlim quer tornar obrigatório o acesso grátis à água potável.


O subdistrito berlinense Gesundbrunnen – cujo nome, aliás, significa “Poço da Saúde” – fica no norte do bairro de Mitte. Sua marca registrada é um imponente mall, ao lado de uma estação para onde confluem diversas linhas de metrô e trens metropolitanos. Num bebedouro público do lado de fora do centro comercial, transeuntes param para encher garrafas de plástico, refrescar o rosto e molhar lenços no escaldante calor da tarde.

Em 10 de agosto, o gabinete federal alemão expediu um projeto de lei pela instalação de mais bebedouros nas cidades e municipalidades. Se a legislação for aprovada no Bundestag (câmara baixa do parlamento), as autoridades locais ficarão obrigadas a prover acesso grátis à água potável nos espaços públicos.

A medida é proposta no âmbito do princípio da Daseinsvorsorge, a responsabilidade declarada dos governos da Alemanha de fornecerem os bens e serviços indispensáveis à existência (Dasein) humana, na forma de infraestrutura pública.

“Se as municipalidades agirem agora, estaremos fazendo uma importante contribuição à saúde e, acima de tudo, à proteção dos cidadãos contra o calor”, explicou a ministra do Meio Ambiente, Steffi Lemke. “Os verões recentes, secos e quentes, nos mostraram que ondas de calor persistentes não são mais uma raridade na Alemanha.”

A cada ano, população consome e descarta mais de 17 bilhões de frascos plásticos de água. Foto: Katja Raiher/DW

1.300 bebedouros na Alemanha: ideal seriam 83 mil

O esboço estipula a instalação de bebedouros públicos onde seja tecnicamente vável e apropriado. Julian Fischer, do grupo ambientalista não governamental A Tip: Tap, saúda a iniciativa com entusiasmo: “Temos água encanada de excelente qualidade na Alemanha, e é uma pena que se compre tanta água engarrafada e se jogue fora os frascos, criando um monte de lixo.”

A origem do nome da organização, o qual define seu escopo central, fica claro em sua página no Facebook: “Do you want to know our tip? Drink tap [water]” (Quer saber a nossa dica? Beba água da torneira).

A origem do nome da organização, o qual define seu escopo central, fica claro em sua página no Facebook: “Do you want to know our tip? Drink tap [water]” (Quer saber a nossa dica? Beba água da torneira).

A ONG ambientalista Deutsche Umwelthilfe estima que na Alemanha a cada hora são usados cerca de 2 milhões de garrafas de plástico: mais de 47 milhões por dia ou 17,4 bilhões por ano. As campanhas da A Tip: Tap visam reduzir esse desperdício: com sua the Refill Initiative, por exemplo, o público em geral tem acesso a água da torneira grátis nas lojas, cafés e farmácias participantes.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, há atualmente 1.300 bebedouros na Alemanha, e o plano do governo é instalar cerca de mil outros, com localização ainda não especificada. Segundo Fischer, contudo, a cifra está bem longe do ideal de pelo menos um bebedouro para cada mil habitantes, ou cerca de 83 mil em todo o país.

Berlim na dianteira

“Seria ótimo todo mundo ter melhor acesso a água encanada limpa, mas especialmente quem tem menos dinheiro, por exemplo, famílias que vão a um playground e têm que encher suas garrafas d’água. Deveria ser parte da infraestrutura cívica sempre ter bebedouros por perto”, propõe Fischer. “Berlim, na verdade, é um bom exemplo na Alemanha, pois temos um número relativamente alto de bebedouros pela cidade.”

Em 2018, sob a coalizão governamental formada pelos partidos Verde, Social-Democrata (SPD) e o socialista A Esquerda, a cidade se afiliou ao movimento internacional Blue Community. Originalmente fundado no Canadá e agora de âmbito global, ele combate a privatização da água, promovendo o acesso hídrico como um direito humano fundamental.

Berlim conta atualmente 201 bebedouros, estando prevista para os próximos dias a inauguração de outros dois: um no Mauerpark, um parque público extremamente frequentado, e o outro no lago público Schlachtensee, no sudoeste da capital.

“Em Berlim, nós estamos na dianteira”, exalta Stephan Natz, porta-voz da the Berliner Wasserbetriebe, a maior operadora de água do país, abastecendo uma população de 3,8 milhões. Ela é responsável por instalar e manter os bebedouros, em funcionamento de abril a outubro. A qualidade da água é testada em laboratório uma vez por mês.

Bebedouro do Gesundbrunnen, em Berlim, mata a sede e refresca. Foto: Helen Whittle/DW

“Acesso a água potável o mais fácil possível para todos”

Além de saciar a sede de seres humanos, cães, pássaros e abelhas, a Wasserbetriebe está procurando meios de desviar as águas não usadas dos bebedouros, que flui pelos ralos e bueiros, para irrigar parques e outras áreas verdes.

“Deveria haver mais conscientização sobre o valor da água, temos muito pouca água em Berlim, e cada vez menos”, comenta Jochen Rabe, diretor geral da associação sem fins lucrativos Kompetenzzentrum Wasser Berlin, que promove ciência, pesquisa e desenvolvimento no campo da gestão hídrica urbana.

Embora a finalidade central dos bebedouros seja evitar o uso de frascos plásticos, eles são também uma questão de saúde pública na Alemanha, com seus centros urbanos cada vez mais quentes e uma população cada vez mais idosa. Rabe frisa que não há suficientes bebedouros.

“No planejamento urbano, fala-se de ‘cidade dos 15 minutos’: quando há uma onda de calor realmente forte, deveria haver um bebedouro, ou pelo menos acesso grátis à água, a dez minutos de distância, no máximo. Quem é mais idoso e vulnerável pode desidratar-se bem rapidamente.”

Outro problema é a falta de acessibilidade para usuários de cadeiras de rodas: dos 201 bebedouros de Berlim, apenas as mais novas, as “Fontes Bituma”, de concreto, são acessíveis a esse público. Há 26 delas em funcionamento, e outras 50 estão encomendadas.

Como afirmou a ministra Steffi Lemke ao anunciar a aprovação do novo projeto de lei pelo gabinete, “o acesso à água potável deve ser o mais fácil possível para todo mundo na Alemanha”.

Fontes: DW Brasil


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