por Carlos Eduardo Ribeiro Jr. | InfoSãoFrancisco
Quebrando um (pequeno) ciclo positivo de manutenções de vazões sem grandes variações, a CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco em poucas horas reduz descargas da UHE Xingó em mais de 600 m³/s, contrariando programação anteriormente veiculada.
A temporada de vazões estáveis de 2.000 m³/s (dois mil metros por segundo) iniciadas no último dia 23 de abril (conforme anunciado pela CHESF em 21 de abril) tiveram mais uma ocorrência de grande variação em espaço temporal reduzido: entre o final da noite de quarta-feira (27) e a madrugada de hoje (28), as defluências do barramento foram consideravelmente reduzidas, descendo de 2.223,23 m³/s, para cerca de 1.487,95 m³/s, uma variação negativa de 735,28 m³/s.
Esse é o segundo evento de queda brusca e acentuada das defluências da UHE Xingó, cujas manobras voltam a produzir incertezas com relacionadas ao seu padrão operacional com variações horárias de descargas ao longo do dia.
Observando o hidrograma disponível no site do SNIRH – Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos, é possível notar que no último dia 25 ocorreu um outro episódio de drástica redução de vazões da UHE Xingó.
Em espaço de uma hora, a vazão do barramento despencou de 1.956,78 m³/s para 951,40 m³/s. Uma variação negativa de 1.005,38 m³/s.
Tanto em relação ao evento do dia 25 como o de hoje, não são conhecidos comunicados formais explicativos da empresa sobre as razões que produziram tão significativas reduções de vazões em todo o Baixo São Francisco.
É importante considerar que a manutenção de vazões “elevadas” no Baixo São Francisco, além da sua crucial relação com os efeitos nos ecossistemas e na vida das populações ribeirinhas, está, neste momento, totalmente vinculada ao quadro hidrológico em toda a bacia: os principais reservatórios reguladores e complementares estão completamente cheios.
Ressaltando os dados do gráfico acima temos:
Três Marias – 90,63%
Sobradinho – 99,85% e
Itaparica – 97,24%.
Ao observamos os gráficos do ONS – Operador Nacional do Sistema abaixo listados (dados do último dia 5), é visível a proximidade dos volumes utilizados e aquele chamado “de espera”, destinado a conter maior aporte de água em caso de situação de grandes afluências.
O ONS estabeleceu volumes de espera extremamente elevados com base nas previsões meteorológicas para toda a bacia. Porém, trata-se de uma operação onde as margens para alguma situação extrema poderiam ser consideradas como algo justas, se tomamos como referência o panorama da crise climática (e eventos extremos) apontado pelos diversos relatórios do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
O volume de espera também está relacionado à chamada vazão de restrição (o Q-RESTR no gráfico acima), que é a vazão máxima permitida pelas regras regulatórias de operações de barramentos. No caso particular das UHEs Sobradinho e Xingó, a vazão máxima permitida pelas regras a ser liberada pelos barramentos é de 8.000 m³/s.
Sem volumes disponíveis em Sobradinho e Itaparica (este reservatório funciona como uma espécie de “amortecedor” para defluências maiores de Sobradinho), e com base nos dados disponíveis, pode ser concluído que as vazões de 2.000 m³/s tendem a ser mantidas para o Baixo São Francisco em padrões que eram vistos até 2012.
No fechamento da matéria a vazão da UHE Xingó operava com descargas de 2.080,06 m³/s (dois mil e oitenta metros cúbicos por segundo).
Fontes: CHESF; ANA/SNIRH; ONS
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