por InfoSãoFrancisco
De forma confusa, sucessão de comunicados de operação de barramentos não conferem com informações inicialmente divulgadas, causam transtornos e contradizem a vazão real, que é significativamente menor.
O mês de março chega ao seu final com o término do chamado período úmido oficial para a bacia hidrográfica do rio São Francisco e com ele, uma amostra do que [possivelmente] poderão ser os próximos meses nas operações de barramento que tanto afetam o Baixo São Francisco: um eventual período de vazões não exatamente dentro da expectativa das populações ribeirinhas a jusante da UHE Xingó.
Afinal, consultando as informações disponíveis no sítio eletrônico da ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, temos Sobradinho com cerca de 96% de seu volume, com afluências consistentes da ordem de 5.770 m³/s, Itaparica com 58,19 % e o sistema operando em situação NORMAL de acordo com a Resolução ANA 2.081/2017 (já comentada pelo InfoSãoFrancisco).
A perspectiva de um panorama onde a tônica seria a volta ao torniquete hídrico pode encontrar terreno fértil para sua propagação a partir da embaralhada comunicação da CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco sobre as operações dos barramentos a partir das determinações do ente máximo, onipresente, mas desconhecido da maior parte da população, o ONS – Operador Nacional do Sistema.
Porém, nos últimos dias, confusão entre anúncios e vazões reais observadas (e obtidas no SNIRH – Sistema Nacional de Informações Sobre Recursos Hídricos) mostram que a rotina das dores de cabeça provocadas pelas variações horárias da UHE Xingó estão aí, no cotidiano abaixo da barragem.
Para todos os efeitos, no fechamento desta matéria, a vazão defluente da UHE Xingó estava em exatos 1.191,05 m³/s (hum mil cento e noventa e um metros cúbicos por segundo, num total de treze horas do período com vazões abaixo de hum mil e quinhentos metros cúbicos por segundo), valor um tanto distante de certos 1.800 m³/s anunciados na data de ontem (27).
Deve ser tomada como [alguma] referência a programação inicial apresentada pelo ONS – Operador Nacional do Sistema, na 4ª. Reunião da Sala de Acompanhamento do Sistema Hídrico do Rio São Francisco organizada pela ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, no último dia 8 de março (ver imagem abaixo): 3.000 m³/s até o dia 31 de março.
Já a CHESF, no dia 18 passado, tendo como justificativa a necessidade de recuperar o estoque no reservatório de Itaparica, anunciou uma nova programação com sua Carta Circular SOO-017/2022, com recuo da vazão na UHE Xingó para 2.000 m³/s (no dia 24 passado)como apresentado abaixo, com critérios de manutenção “até nova avaliação“.
Porém, novamente, no sábado, dia 26, desta vez pelo sistema de SMS, a CHESF volta a modificar a programação com nova redução dos 2.000 m³/s definidos no dia 18, para 1.500 m³/s a serem aplicados no domingo (27).
Na verdade, durante o período do dia claro de domingo, muitas pessoas se viram às voltas com vazões bem abaixo de 1.500 m³/s que criaram complicações pequenos sistemas de captação de água para consumo humano ou pequenos plantios atolados na lama. Foi afetada ainda a mobilidade pelo fato de estarem muitas de suas embarcações em terra.
Sem tempo de um respiro, ontem (27), novo SMS da CHESF, agora anunciando uma elevação para 1.800 m³/s na segunda-feira (hoje, 28), que até o fechamento da matéria eram apenas um sonho de final de verão.
Ainda sem tempo para baixar a poeira (ou a lama), nova embaralhada no diz que sobe, diz que baixa das vazões, com o recebimento de (mais uma!) comunicação da CHESF, a Carta Circular SOO-020/2022, onde tudo o que foi dito até ontem, ao que parece, está fora do jogo: as vazões (nos dias úteis) ficarão “no entorno de 2.000 m³/s”.
Não está especificado o valor do “entorno de 2.000 m³/s”, exatas vazões mínimas, exatas vazões máximas: informação de totais pertinência e interesse público para a população afetada pelas operações da UHE Xingó, algo que um sistema tão sofisticado como o de controle das defluências não possa gerar com facilidade e precisão.
Afinal, seria a informação do “entorno de 2.000 m³/s” um componente supérfluo na imprescindível obrigação de um transparente e eficaz procedimento de comunicação das empresas públicas?
Até o fechamento da matéria não eram conhecidas reações relacionadas ao caso da parte dos governos de Alagoas e Sergipe, bem como dos municípios ribeirinhos e sociedade civil no Baixo São Francisco.
Fontes: CHESF; ANA/SNIRH
Leia ainda
Com fim do período chuvoso, vazões serão reduzidas no Baixo São Francisco
Bacia do São Francisco tem Situação de Cheia declarada
Vazões de Xingó aumentam para garantir volume de espera em Itaparica
Estado de Sergipe sem plano de emergência para o Baixo São Francisco