No terceiro álbum da série da foto reportagem O Rio Que Sobrou mais uma coleção de imagens das atividades do projeto Sobradinho +40 – A Desintegração do Rio da Integração no Baixo São Francisco no trecho entre a foz e o alto sertão da região.
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A bordo de sua nova balsa em construção no estaleiro que montou em Piaçabuçu, Araúna expõe suas impressões sobre o estado do rio, resumindo em uma pequena frase: âo rio tá acabadoâ¦esse rio de São Francisco tá mortoâ¦não tem futuro, nãoâ¦â Araúna de Tonho Carmelo, é filho de canoeiro, descido dos Escuriais, na boca do alto sertão, em Nossa Senhora de Lourdes, SE. Junto com os irmãos e primos, todos barqueiros, desenvolvem navegações transversais, em Piaçabuçu e Penedo, AL e Brejo Grande e Neópolis, SE.
O riacho da Marituba (da fábrica) é um dos corpos dâágua da várzea da Marituba, em seu trecho no municÃpio de Piaçabuçu, AL. PoluÃdo, sem trato, sem suas matas ripárias, apesar de inserido na APA da Marituba do Peixe, sofre a crescente invasão de plantas aquáticas exóticas, como as baronesas. Por estas águas adentraram embarcações de grande porte que traziam suprimentos e levavam a produção da fábrica de Tecidos da Marituba nos anos 50, 60 do século vinte.
Na margem sergipana, de forma simétrica, natural, ainda existe a várzea do rio Betume. Sua foz, com interferência a partir da criação do perÃmetro irrigado do Betume, pela Codevasf, em 1978, bem degradada, camufla a importância deste derradeiro afluente perene na margem direito do rio São Francisco.
Fisicamente canalizada, a barra do rio Betume é mais um exemplo do significado e da importância de rios para a sociedade brasileira. A vegetação ao longo da mesma, visualmente aparenta uma mata ripária, que não existe.
Com sua nascente principal na zona norte do municÃpio de Pirambu, o rio Betume banha outros cinco municÃpios (Japaratuba, Japoatã, Pacatuba, Neópolis e Ilha das Flores) e sua bacia com inúmeros sinais de degradação, não conta com qualquer proteção efetiva (legal, prática).
A ponte baixa, próxima à foz do Betume, facilita, dá conforto ao mundo terrestre, detonando a paisagem e uma bela hidrovia, mutilada até que alguma iniciativa de bom senso, remova a obra e refaça algo adequado.
Com a ponte pelas costas, a visão do São Francisco: a várzea do Betume, assim como a da Marituba, na banda alagoana, não conta mais com as cheias do grande rio para garantir sua pujança.
Ãgua com duvidoso aspecto, lixo dentro e nas margens, peças de carros, carcaças metálicas e baronesas ocupando os espaços.
No Barro Vermelho, em Penedo, a chata Jerusalém, de Eronides, uma das duas únicas remanescentes das canoas tradicionais do Baixo São Francisco.
Inaugurada em 1972 como um grande sÃmbolo da modernidade, a ponte entre Propriá, SE e Porto Real do Colégio, AL, prejudicou a navegação clássica ainda existente (canoas tiveram que cortar parte de seus mastros para a passagem sob a ponte durante perÃodos de cheias) e, com seus inúmeros pilares cravados no rio, perturbaria a dinâmica fluvial a jusante. A paisagemâ¦
Uma moldura metálica que contribuiu, findas as travessias fluviais, para transformar as cidades em mero locais de passagem e não destino com vida mais dinâmica.
Uma intervenção mal realizada não é suficiente. Inserida no projeto de duplicação da BR 101, uma segunda, cara e desnecessária ponte foi cravada no leito do rio. Seguindo uma replicação piorada do projeto da ponte mais antiga, a segunda ponte, junto com a primeira, formam um paredão de concreto dividindo o São Francisco.
Propriá. Cidade que, junto com Penedo, se propunham como capitais do Baixo São Francisco. Hoje, sombras.
Acima de Propriá, na divisa com o municÃpio de Telha, a entrada do canal das bombas de captação da água para Aracaju. Assolado pelas baronesas. Com cerca de sessenta por cento de sua água originados no São Francisco (há que se contabilizar uma perda considerável nas redes), teriam os aracajuanos a noção de sua relação direta com os problemas do rio?
Acima de São Brás, AL, o morro do Gaia é a proximidade da boca do sertão.
A Borda da Mata, abaixo dos Escuriais, em Sergipe. Boca do sertão.
Na Lagoa Funda, em Gararu, um teimoso e admirável circo no beiço do rio (num Baixo São Francisco já entregue à internet), a caminho da noite, para um provável pequeno punhado de povo na platéia. Admirável, admirável, há que insistir.
Em Traipu, sem identificação, uma das estações de medição fluviométrica no Baixo São Francisco.
Em frente à Traipu, na legendária serra da Tabanga, uma área degradada, pelada, que há anos, sob os olhos de qualquer pessoa (particularmente de órgãos ambientais), está ali, sem qualquer reação que leve à responsabilização do(s) autor(es) e sua recuperação.
Na encosta norte da Tabanga, uma das derradeiras caatingas remanescentes nas margens do rio em estado não tão comprometido.
Solitário em meio ao que sobrou de caatinga, o pau dâarco roxo é todo flor, fora de época, tendo aproveitado uma chuvinha de final de ano.
O processo de supressão de vegetação nativa, acelerado, deixa em risco a conservação dos ecossistemas, sua biodiversidade, criando ainda situação de comprometimento do DNA das espécies da região.
Pano para lavar no final de dia, na Genipatuba, Gararu.
Esta reportagem faz parte do projeto Sobradinho +40 – A Desintegração do Rio da Integração.
Produção da matéria:
Carlos Eduardo Ribeiro Jr – Organização, fotos e texto
Daiane Fausto dos Santos – tratamento de imagens
Edson Goes Ferreira – fotos drone
Artigos de autoria e opinião não refletem, obrigatoriamente, posições e opiniões do InfoSãoFrancisco,