Completando três semanas no dia 03 de novembro, o MonitOleamento segue identificando informações sobre a maior tragédia por derramamento de óleo já registrada na história da indústria do petróleo na América Latina.
Órgãos governamentais e empresas de jornalismo estão em busca de respostas sobre quem seria responsável por essa crise ambiental que se alastra declaradamente por algumas prefeituras, sobretudo na relação das populações ribeirinhas com a pesca de animais marinhos e estuarinos (caranguejo, polvo, camarão, etc.) infectados pelo óleo cru.
Das suspeitas até os indícios, os rastros de GPS do sistema de dados abertos sobre geoposicionamento de navios (Marine Traffic), ajudam a localizar de modo público os possíveis petroleiros e suas rotas.
Dois “presentes de gregos”
As investigações sobre os petroleiros Ekta e Bouboulina, ambos sob bandeiras gregas, tomam dois caminhos que “se cruzam” em uma rota do petróleo venezuelano.
Essa rota interoceânica vai do Norte da América do Sul, passando pelo Sul da África até o sudoeste da Ásia. Veja os detalhes no mapa interativo, abaixo da matéria.
Navio Ekta
A primeira suspeita é de que um navio não-rastreável (ou “navio-fantasma”), dado como desativado desde 2017, foi o responsável pela ocasião.
O navio Ekta, que pertencia a uma empresa grega até 2017, foi apontado como suspeito por estar desativado. Isso potencializaria sua chance de ser um “navio fantasma” sem transponder para avisar à Marinha sua passagem por águas do Brasil por meio da frequência de GPS, como fazem navios em geral.
A hipótese surgiu depois que barris grafados com o nome do navio foram fotografados em meio a manchas de óleo na costa de Sergipe.
Ainda acordo com análises químicas, realizadas por pesquisa da Universidade Federal de Sergipe (UFS), este óleo é o mesmo encontrado em outros pontos da costa: de densidade similar ao petróleo venezuelano.
Navio Bouboulina
A segunda é a suspeita é com base nos indícios do sistema de monitoramento de transportes marítimos (SISTRAM), desenvolvido e monitorado pela Marinha do Brasil.
Segundo a empresa de geotecnologias HEX, o navio de bandeira grega esteve durante os dias 28 e 29 de julho navegando na costa do Nordeste. Segundo a PF com ajuda da Interpol, o Boubolina já esteve na Ásia e posteriormente na Nigéria transportando petróleo desde essa passagem pelo Brasil.
Ainda de acordo com imagens aeroespaciais cedidas pela HEX à Polícia Federal (PF), uma mancha de 200 km foi identificada na costa brasileira após o período da passagem do Bouboulina, o único petroleiro que transitou na faixa do Rio Grande do Norte, afirma a PF.
Com base em dados geográficos, este levantamento retroativo das imagens aeroespaciais levou dias e segundo a HEX foi uma “missão quase impossível” visto a quantidade de dados e a dificuldade de mineração de imagens na superfície do mar, ou seja, em pleno fluxo e ainda encoberta por nuvens.
Por esforço científico, foi possível encontrar uma foto do momento exato e avançar com um indício material que endossa tecnicamente a investigação. Mandados de busca e apreensão foram realizados no Rio de Janeiro pela PF, sede do escritório de uma empresa associada aos responsáveis pelo navio suspeito.
Atualizações do MonitOleamento
Anunciado pela plataforma InfoSãoFrancisco, o MonitOleamento é um projeto simplificador e colaborativo que completou 10 dias contabilizando 11 mil visualizações e interações do público até 22 de outubro.
Acesse as atualizações do sistema MonitOleamento diretamente aqui.
Como colaborar
Entenda como participar como voluntário. A expectativa com a disponibilização do MonitOleamento é de seja possível a coleta de informações que surgem a cada hora e, cruzando com dados oficiais, repassar esse conjunto de pontos em 72 horas ao IBAMA no formato digital KML até o início de 2020.
Os pontos onde possivelmente este crime ambiental ou suposto acidente naval ocorreu podem ser presumidos com base em estimativas científicas de diversas fontes.
Os fatos seguem agora sendo apurados pelas investigações da Marinha do Brasil e da Polícia Federal sobre este derramamento de petróleo cru que já afeta cerca de 40% da costa nacional.
Para participar do mapeamento basta preencher o formulário clicando aqui.
◊ Imagem em destaque – Mapa do MonitOleamento – via Antonio Laranjeira