Em nova investida após as manobras caóticas de reduções e aumentos de vazão ocorridas entre domingo (23 ) e segunda-feira passados, o setor elétrico volta a fazer pressão por redução das vazões da UHE Xingó no Baixo São Francisco.
Alegando [que] “as avaliações prospectivas mostram que serão imprescindíveis as flexibilizações dos limites de transmissão e das condições operativas do Sistema Hídrico do Rio São Francisco, notadamente da restrição de defluência máxima a ser praticada pela UHE Xingó” o ONS – Operador Nacional do Sistema, através de seu ofício CTA-ONS DGL 1000/2021 quer, a qualquer custo, a UHE Xingó operando com vazões menores do que os ínfimos 1.100 m³/s atuais.
O documento encaminhado à ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico insiste na necessidade de “dispor de melhores condições para o atendimento eletroenergético do SIN, solicitamos adicionalmente, em caráter excepcional, a anuência desta Agência para realizar operação especial no reservatório da UHE Xingó durante os meses de junho e julho de 2021 com a flexibilização da vazão mínima para 800m³/s, em conformidade com o art. 18 da Resolução ANA nº 2.081, de 4 de dezembro de 2017“.
É importante observar que as vazões classificadas como ‘mínimas’, na verdade são uma versão semântica de médias mínimas, significando que picos negativos abaixo do valor demandado poderão ocorrer.
O ofício atual é uma reincidência das manifestações já apresentadas em março deste ano, quando o ONS resistia na aplicação das atuais vazões de 1.100 m³/s.
Em todo o texto do documento (ver abaixo versão na íntegra) não se verificam menções aos impactos socioambientais dos impactos de tal sistema de operações de barramentos. É explícita a não contemplação de componentes ambientais e sociais nas políticas energéticas.
Ao mesmo tempo, tendo a comprovada situação dramática de populações ribeirinhas extensas entre a UHE Xingó e a foz, também não são observadas ações reparadoras, compensatórias e mesmo emergenciais (como fornecimento de água potável para as populações e adequamento de suas pequenas captações individuais para água de uso diário e produção de alimentos de subsistência).
O recente relatório da UFAL – Universidade Federal de Alagoas que expõe a gravidade do comprometimento da qualidade da água e seus efeitos sobre populações humanas e dos ecossistemas aquáticos parece não ser o suficiente – como documento científico, base para ações legais contra a desastrosa e predatória gestão do Velho Chico – para criar ânimo de reação. Sociedade, prefeituras, estados de Sergipe e Alagoas permanecem silenciosos favorecendo a imposição do São Francisco modelo 2021 desenhado pelo setor elétrico e referendado pelos demais entes da gestão.
Veja/descarregue abaixo o ofício CTA-ONS DGL 1000/2021 na íntegra
Gráficos. Reprodução: SNIRH/ANA
As “torneiras” seguem soltando pouca água
Na matéria Vazões da UHE Xingó: quarta alteração em algumas horas, volta aos 1.100 m³/s publicada ontem, foi transmitido o novo recuo da CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco que retornou o padrão de descargas no Baixo São Francisco para a média de 1.100 m³/s.
Porém, na manhã de hoje, na Estação Reserva Mato da Onça, após comparação in loco de evidente redução de vazão, foi verificado através de acesso ao SNIRH – Sistema Nacional de Informações dos Recursos Hídricos que as defluências da UHE Xingó despencaram para a faixa de 760 m³/s, signicando uma grande diferença negativa que, por conseguinte, causa problemas já muitas vezes apontados pelas diversas reportagens.
No fechamento desta matéria as defluências da UHE Xingó estavam em 1.29208 m³/s (14:00).
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Fontes
CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico