Mesmo com Sobradinho tendo aumento consistente em seu volume armazenado, setor elétrico mantém Baixo São Francisco submetido ao regime de pouca água, levando a degradação do rio ao extremo e comprometendo o acesso da mesma às populações ribeirinhas difusas
Com a manutenção do modelo operacional dos barramentos a jusante de Sobradinho, a situação da expansão de bancos de vegetação invasora e algas verdes – que criam um quadro de não acesso à água de qualidade adequada – permanece no Baixo São Francisco e toma proporções do caminho rumo ao fim do rio.
Durante a semana, contrariamente ao modelo de operações apresentado pelo ONS – Operador Nacional do Sistema no início do mês (veja a matéria Setor elétrico: vazões baixas serão mantidas) as defluências diárias estiveram na cota média de 1.000 m³/3 (hum mil metros cúbicos por segundo), sempre abaixo dos 1.300 m³/s determinados como valor mínimo pelo Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.
No entanto, nos últimos dias vem sendo observada (fonte ANA – Agência Nacional de Águas) maior afluência no reservatório de Sobradinho que, de forma consistente, vem tendo aumentado o seu volume de água no lago (em 20/02/2020 atingiu o volume de 42,23% – ver gráfico abaixo).
No dia 18, com a situação hidrológica muito favorável no Alto São Francisco, a vazão afluente chegou a 4.200 m³/s (veja gráficos abaixo). Ainda assim, foram mantidas as defluências (até o Baixo São Francisco) abaixo dos 1080 m³/s previstos no início do mês (que não são, em absoluto, valores suportáveis pelo rio, pelas populações ribeirinhas).
AS VARIAÇÕES DE AFLUÊNCIAS/DEFLUÊNCIAS AO LONGO DA SEMANA
Observar as afluências em Sobradinho ao longo da semana, crescentes até o dia 18, e a manutenção de vazões defluentes muito inferiores até o Baixo São Francisco.
Nota: as imagens são recortes do quadro geral da bacia, para facilitar a visualização da região entre Sobradinho e o Baixo São Francisco.
Como já foi alertado inúmeras vezes, ao longo dos anos, são observadas variações nas cotas do espelho d’água a jusante de Xingó que deixam dúvidas na relação das mesmas com os valores das defluências divulgados.
O dia a dia com variações horárias de vazões mínimas
A situação nas margens segue crítica, com o acúmulo de algas e vegetação aquática em decomposição, que se sobrepõem à vegetação invasora terrestre de transição, que avança sobre o leito secado do rio, já que é “irrigada” com as “marés” da UHE Xingó e fertilizada pela biomassa depositada.
Veja ainda
ACP das Algas – determinada realização de perícia no Baixo São Francisco
Setor elétrico: vazões baixas serão mantidas
Repetindo 2: 550 m³/s! Vazão mínima autorizada [ainda] em vigor no Baixo São Francisco
Fontes
ANA – Agência Nacional de Águas
◊ Imagem em destaque – Acúmulo de biomassa em decomposição na Reserva Mato da Onça. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr. | Canoa de Tolda/InfoSãoFrancisco