A corrida contra o tempo pela preservação do DNA das caatingas do Baixo São Francisco é urgente, longa, permanente e não permite atrasos. Cada ano ou temporada perdidos, podem significar parcelas bem maiores de tempo para as tentativas de conservação além de terem custos significativamente aumentados.
Nos últimos dias o programa Caatingas – Meta 2035 que dentre seus diversos objetivos estabeleceu o restauro de zonas de caatingas da RMO – Reserva Mato da Onça deu partida para mais uma etapa de plantios na UC – Unidade de Conservação.
Em razão da gravidade do avanço da desertificação dos semiáridos do Baixo São Francisco, como já noticiamos há alguns dias, colocando em risco imediato o DNA de sua flora, a garantia de matrizes (e, por conseguinte, sementes, para sua propagação) não qualquer possibilidade de mal uso do tempo e disponibilidade dos recursos possíveis (humanos, físicos, financeiros).
Assim, com o sistema de irrigação por gotejamento já quase totalmente instalado na zona ripária da base da serra principal da face sul da RMO, os plantios estão sendo realizados de modo a
acompanhar a montagem das linhas da rede hidráulica.
A prioridade de plantio no chamado pé da serra do serrote sul da RMO tem como objetivo reestruturar o cinturão de mata mais densa da zona ripária (a chamada mata ciliar) para estocar água/umidade, o que permitirá, no futuro, a expansão da vegetação arbórea e arbustiva em direção ao topo da serra.
Com a chegada do inverno, apesar de chuvas praticamente ausentes, está sendo adotado um processo de “seguir a sombra do morro” para os plantios. Com a declinação (a grosso modo a terra está mais inclinada para o sul durante o inverno) norte do sol nesta estação, as atividades estão se beneficiando de maiores áreas sombreadas e durante mais tempo a partir das 14:00 justamente ao longo do “pé da serra”. O solo tem temperatura mais baixa, gasta-se menos água para a irrigação inicial e assim podemos obter resultados com perdas de mudas em taxas bem baixas (as avaliações do Caatingas – Meta 2035 se voltam essencialmente para o número de mudas que de fato vingam e não no número absoluto de indivíduos plantados).
Pela variedade de mudas disponíveis no Viveiro da Reserva, os plantios podem – sempre respeitando a estrutura de floresta desejada, próxima do original – se beneficiar da melhor seleção de espécies mais resistentes às situações de solo e ambiente mais ou menos úmidos.
Além da zona que segue a base do serrote do sul, os plantios já começam a adentrar o grotão do riacho Bebedô, um pequeno afluente intermitente do São Francisco que conta com uma mata em situação razoável.
Ao longo do Bebedô serão realizados plantios de enriquecimento de variedades sendo prevista ainda a recuperação do olho d’água, nascente do riacho, na chã elevada aos fundos da RMO, ao norte da poligonal.
Estas matas, segundo relatos de moradores mais antigos, eram conhecidas pelo grande porte de suas árvores que contavam com braúnas, cedros, paus d’arco roxos, e inúmeras outras madeiras que foram consumidas para a construção de embarcações, casas e também queimadas nas caldeiras de navios a vapor além da intensiva produção de tijolos e telhas no Mato da Onça e povoados vizinhos.
As ações de plantio do Caatingas – Meta 2035 contam com o apoio do Projeto Opará realizado em cooperação com a UFS – Universidade Federal de Sergipe, através do edital Petrobras Socioambiental.
◊ Imagem do topo – Plantios de bugios e lírios da caatinga na entrada do grotão do Bebedô – Imagem | Canoa de Tolda