Extinção ocorreu nos últimos 30 anos, segundo pesquisa do Cieg, da Fundaj, que está sendo realizada em parceria com a Ufal, a qual traz também relatório que contribuirá para a diminuição dos impactos climáticos nas regiões da caatinga alagoana.
O Centro Integrado de Estudos Georreferenciados (CIEG) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) estão realizando uma pesquisa sobre possíveis impactos climáticos nos açudes, nas barragens e nas lagoas superficiais da caatinga alagoana.
Como campo amostral foram adotados os municípios de Delmiro Gouveia, Pão de Açúcar, Belo Monte, Craíbas e Jaramataia, localizados em Alagoas. Segundo a pesquisa que está em andamento, nos últimos anos, apesar do número total de lagoas do estado ter aumentado, 1.349 olhos d’água desapareceram e os novos que surgem são menores do que um hectare. A conclusão das pesquisas está prevista para março de 2020 e contribuirá na construção de políticas públicas para diminuir os impactos das mudanças climáticas no semiárido nordestino.
A dinâmica dos espelhos d’água na caatinga alagoana se refere, essencialmente, aos pequenos açudes, os quais são vitais às populações de alta vulnerabilidade social presentes no semiárido alagoano.
“Tanto as autoridades quanto os trabalhadores rurais têm uma percepção geral de que nos últimos 30 anos houve uma redução dos corpos hídricos e recargas hídricas nessas regiões. As secas e as estiagens prolongadas vêm impactando, principalmente, a agricultura familiar. Nas margens do São Francisco já não há mais cultivo de arroz, por exemplo. E a pesca artesanal nas lagoas foi praticamente extinta, além do pouco uso social dessas águas”, afirmou Neison Freire, pesquisador da Fundaj.
Utilizando séries históricas de imagens da família de satélites norte-americano LANDSAT, o Cieg desenvolveu novo método para mapear corpos hídricos em períodos secos na área que compreende a caatinga em Alagoas (46% do estado). Comparando imagens de 1988 e 2018, o Cieg identificou um crescimento de açudes e barragens, passando de 2.003 unidades em 1988 para 3.133 unidades em 2018. Entretanto, analisando o perfil desses corpos hídricos foram encontradas três situações bem distintas. A primeira delas identificou que 1.349 açudes/barragens/lagoas desapareceram do mapa entre uma data e outra, sendo que a maioria (1.288) eram menores que 1 hectare. O segundo grupo revelou que surgiram 2.472 novos corpos hídricos, mas, novamente a maioria (2.325) tem área inferior a 1 hectare. O terceiro e último grupo 660 corpos hídricos (sendo 489 menores que 1 hectare) se refere aos corpos que se mantiveram entre uma data e outra.
“Alguns açudes são construídos em rios de água salgada por questões políticas, sem dar importância a técnica. Dessa forma, acabam não tendo uso, e também, desaparecem por conta do clima”, afirmou Neison.
A partir de entrevistas com secretários municipais de meio ambiente, moradores e trabalhadores rurais, combinadas com imagens de satélites e dados censitários e revisão de políticas de açudagem na região, os pesquisadores estão traçando uma análise das possíveis causas e suas consequências, impactos e recomendações às políticas públicas setoriais com relação à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas na Caatinga.
“Além da contribuição com um relatório para os secretários de meio ambiente e prefeitos dos municípios, ao final do processo, publicaremos um artigo sobre o tema numa revista internacional e faremos palestras para falar sobre os resultados. Futuramente, também realizaremos o mesmo estudo na caatinga pernambucana”, concluiu Neison.
Fonte: FUNDAJ – Fundação Joaquim Nabuco
◊ Imagem em destaque – Um dos preciosos olhos d’água do riacho do Morro Vermelho, afluente do São Francisco, em Pão de Açúcar, AL. Foto | Canoa de Tolda © 2019