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Os efeitos das pequenas usinas hidrelétricas

A PCH Ludesa, no rio Chapecó, entre os municípios de São Domingos, Ipuaçu e Abelardo Luz, no oeste de Santa Catarina, em operação desde 2007 Foto: Guia SC

por Carlos Fioravanti | Pesquisa Fapesp

Águas represadas favorecem a multiplicação de algumas espécies de peixes e prejudicam a de outras.


Como as grandes, as pequenas hidrelétricas – usinas com potência de geração de até 30 megawatts (MW) e reservatório de até 13 quilômetros quadrados – também causam alterações ecológicas nos ecossistemas aquáticos.

Algumas dessas alterações podem ser detectadas na composição de espécies de macroinvertebrados e de peixes, de acordo com uma análise do impacto de 12 pequenas hidrelétricas nos rios Chapecó e Chapecozinho, em Santa Catarina, detalhada em um artigo publicado em 7 de abril na Freshwater Biology.

Em quatro locais de amostragem para cada pequena hidrelétrica, pesquisadores de instituições do Brasil e dos Estados Unidos coletaram 71 grupos taxonômicos de macroinvertebrados aquáticos (moluscos, vermes, crustáceos e insetos) e 16 espécies de peixes. Ao analisarem os dados, verificaram uma substituição dos organismos de fluxo rápido por outros, de águas estagnadas.

O acará, uma das espécies de peixes que se multiplicam em águas represadas. Foto: Christoph.fr / Wikimedia

Como verificado também em estudos similares realizados em outras partes do país, a quantidade relativa de espécies de águas estagnadas, como o acará (Geophagus brasiliensis), pode aumentar em até quatro vezes.

“A percepção de que pequenas hidrelétricas causam baixo impacto ambiental não tem respaldo na realidade”, comenta o biólogo Thiago Couto, o principal autor do estudo, em estágio de pós-doutorado na Universidade de Washington, Estados Unidos. “A classificação de pequena é baseada quase exclusivamente em geração de energia, não em atributos mais diretamente associados aos impactos ambientais de represas.”

Outra conclusão desse estudo é que as pequenas hidrelétricas com barragens mais altas, com reservatórios maiores e mais distantes das cabeceiras dos rios tendem a intensificar a substituição de espécies.

Alexandre Affonso/Revista Pesquisa FAPESP

Os autores ressaltam: “Estudos de impacto ambiental devem dar especial atenção a características do local e a efeitos cumulativos do sistema de pequenas hidrelétricas, mais do que a aspectos estruturais do projeto”.

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), estão em operação no Brasil 219 usinas hidrelétricas de grande porte e 1.164 hidrelétricas de pequeno porte, incluindo 425 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH, entre 5 e 30 MW) e 739 Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH, até 5 MW). Centenas de novos projetos hidrelétricos desses dois tipos estão em fases de planejamento, licenciamento e construção no Brasil.

Um estudo de Couto publicado na Frontiers in Ecology and Environment em janeiro de 2018 estimou em 82.891 PCH em operação ou construção em 150 países, com uma proporção de 11 pequenas para cada grande usina hidrelétrica.

Íntegra do texto publicado em versão reduzida na edição impressa, representada no pdf.

Artigos científicos
COUTO, T. B. A. et al. Effects of small hydropower dams on macroinvertebrate and fish assemblages in southern Brazil. Freshwater Biology. On-line. p. 1-16. 7 abr. 2023.
COUTO, T. B. A. e OLDEN, J. D. Global proliferation of small hydropower plants – Science and policy. Frontiers in Ecology and Environment. v. 16, n. 2, p. 91-100. 10 jan. 2018.


Fontes: Pesquisa Fapesp


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