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Para garantir biodiversidade das caatingas, RPPN Mato da Onça prossegue com plantios

Aproveitando uma situação meteorológica favorável, os plantios nas caatingas em recuperação da RPPN Mato da Onça estão sendo realizados, apesar das dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19.

Com meteorologia favorável e apesar das extremas dificuldades criadas pela crise sanitária da pandemia do novo coronavírus, plantios de restauro e enriquecimento para conservação da biodiversidade nas caatingas da RPPN Mato da Onça estão sendo realizados e permanecem como uma das prioridades do projeto Caatingas – Meta 2035.

As chuvas que estão ocorrendo há algumas semanas no alto sertão do Baixo São Francisco, além de contribuírem para vigorar zonas em recuperação e no sucesso de plantios realizados no ao longo de 2020 têm possibilitado – mesmo que em quantidades e ritmo inferiores ao idealizado – plantios localizados em zonas prioritárias, como a faixa ripária da Reserva e as bases de suas serras.

Nos últimos dias foram realizadas campanhas de reocupação de covas vagas (por insucesso de mudas anteriormente plantadas) e enriquecimento com espécies variadas (tanto de espécies pioneiras, com crescimento mais rápido, como de secundárias em locais com situação de recuperação mais avançada) sobretudo na zona ripária, para reforço físico e biológico na proteção da faixa ao longo do rio.

O início da estação úmida também tem proporcionado a observação de intensa fauna em fase juvenil, indicando o sucesso das ações de conservação da biodiversidade na Reserva Mato da Onça que se confirma como santuário para animais. Com poucas opções de refúgio em região de caatingas extremamente degradadas como é o alto sertão do Baixo São Francisco, na UC as espécies estão encontrando a possibilidade de reprodução e propagação.

A RPPN Mato da Onça vista da banda de Sergipe. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.

As ações de recuperação das caatingas da RMO também se somam àquelas estabelecidas pela situação de Urgência Climática estabelecida para a UC.

Com a redução das vazões regularizadas defluentes a partir de Sobradinho desde 2013, e a operação da UHE Xingó com variações horárias cada vez maiores de nível do espelho d’água, o leito secado do rio, irrigado e fertilizado pela biomassa em decomposição foi invadido e densamente ocupado por espécies invasoras exóticas. Estas, em algum momento, e havendo recursos, serão suprimidas, assim como foram as inúmeras algarobas (operação realizada em 2014), uma praga que se espalha por todo o semiárido nordestino.

A perspectiva é de que sejam possíveis, até o final do inverno de 2021, mais atividades de plantios na mesma zona, garantindo mais um passo para a recuperação da integridade da mata na verdadeira zona marginal da poligonal da RPPN Mato da Onça.

Daia Fausto, gestora da RPPN Mato da Onça, nos plantios. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.

Caminhos não tão fáceis

Se projetos de restauro e conservação florestais no bioma caatinga ainda têm um consistente histórico de dificuldades e pequenos número e escala, além da rala valorização pela sociedade, com a explosão da pandemia do novo coronavírus o caminho ficou ainda mais difícil de trilhar.

Em 2014, com a formalização do processo de regulamentação da RPPN Mato da Onça, conhecida como Reserva Mato da Onça, ou RMO, já eram bem claros os desafios da criação da UC – Unidade de Conservação.

Atualmente são apenas duas pessoas dedicadas às atividades da UC – Unidade de Conservação em razão das restrições provocadas pela pandemia da Covid-19 desde o início do ano de 2020 a RMO vem enfrentando dificuldades para garantir sua manutenção.

Filhote de iguana (Iguana iguana) na RPPN Mato da Onça. Foto: Daia Fausto/InfoSãoFrancisco.

Um exemplo dos impactos advindos da situação sanitária se aplica ao caso do estoque de mudas produzidas pelo Viveiro da Reserva, que deveria ter (ainda em 2020) parte destinada a plantios internos na UC e outra a ser entregue a clientes: todas as compras foram canceladas, desfeitas ou ainda adiadas criando uma situação complexa de manutenção das milhares de mudas.

Tendo estas chegado a estágio elevado de maturação e em meio a um período de temperaturas extremante elevadas foi contabilizada perda de milhares de mudas: manter a grande quantidade de plantas vivas no pátio foi, e ainda é, algo complexo que exige grande empenho de recursos financeiros e humanos. São atividades de irrigação, manejo (controle de ervas competidoras nos sacos de mudas, trocas daqueles que se deterioram com o sol, poda de galhos e de raízes) que exigem pessoal e cuidados permanentes.

Filhote de jaraca (Bothrops erythromelas). Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.

Como diz Daiane Fausto dos Santos, co-gestora da RMO e responsável pelo Viveiro da Reserva , “é horrível ver as mudas morrendo e o viveiro parado e sem atividades, é muito triste. Sem a venda de mudas há muito prejuízo, inclusive no ano passado perdemos a coleta de sementes das plantas nativas da região, isso significa perda de anos para chegarmos a nossa meta. Com limitações extremas ainda assim espero que o viveiro volte a funcionar normalmente, pois por enquanto são apenas duas pessoas para tocar tudo.”

Com o retorno da fauna à RMO como resposta ao esforço, Daiane expressa otimismo, uma vez que os bichos são o principal bio-indicador da qualidade ambiental dos ecossistemas da Unidade de Conservação.

“Eu me sinto privilegiada de estar perto da natureza, que é uma coisa que amo e gosto de fazer, de estar junto aos animais. É uma satisfação enorme, e alegria que é semear sementes e vê-las germinar. Apesar das dificuldades, minha perspectiva e ver a Reserva florestada até 2035, bem fechada e sua biodiversidade melhorada”


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Fontes

Canoa de Tolda

RPPN Mato da Onça