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De volta pra caatinga! Jabutis são soltos na RPPN Mato da Onça

via Redação

Animais apreendidos pela Vigilância Sanitária de Pão de Açúcar, AL, são devolvidos à natureza na Reserva Mato da Onça onde se integram ao programa de restauro de caatingas e de conservação da biodiversidade da UC – Unidade de Conservação.

Lugar de bicho é no mato ou [ainda] haveria dúvidas sobre isso? Muita gente, infelizmente, ainda acha que não e o caso dos onze jabutis que na última quarta-feira (07) recuperaram a liberdade mostra bem como é difícil a aceitação, por muitas pessoas, dos direitos básicos dos animais.

O encontro dos jabutis ocorreu de forma casual, quando Lenoir Feitosa, agente de Vigilância Sanitária e Animal da Prefeitura de Pão de Açúcar, em atividade rotineira de vacinação de gado no interior do município, se deparou com os animais em casa de alguns moradores. Estes, seguiam o indevido costume de capturar e manter cativos animais silvestres que, no caso dos que foram apreendidos, ainda que em bom estado sanitário, estavam privados de vida natural em seu ecossistema.

Antônio Lira
Lenoir Feitosa, da Vigilância Sanitária, com o jabuti, e Carlos Eduardo Ribeiro, da RPPN Mato da Onça.

Evitando um conflito maior, que colocaria em risco os jabutis, de modo diplomático Lenoir entabulou uma negociação, como explica: “Indo vacinar gado em uma região aqui do interior, encontrei os animais em casa de caçadores – que pediram para não divulgar seus nomes – e conscientizei eles que era preciso levar para um lugar seguro; falei sobre a extinção deles, tem muito poucos animais desses aqui na região da gente”.

Feitosa explicou ainda que mesmo com a negociação prometendo um final feliz, sempre há uma certa desconfiança por parte das pessoas, que duvidam da intenção real na retirada dos animais de seus cativeiros. “Chegam até a pensar que vamos pegar os bichos para vender, o que não é verdade”, diz.

Finalizando, ele cita que “depois falei com o pessoal da Reserva Mato da Onça que assegurou que aqui os bichos estariam cem por cento protegidos, ganhei confiança e foi isso que fiz. Entrei em contato com o Meio Ambiente, da Secretaria Municipal de Pão de Açúcar, e tamos aqui, abraçando essa causa, chegando ao denominador comum, que é soltar eles aqui na Reserva.”

Carlos E. Ribeiro Jr / InfoSãoFrancisco
No carrinho de mão, já na Reserva, a bicharada parecia animada.

Por sua vez, Antonio Lira, representante da Secretaria Municipal de Agricultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos disse que uma vez recebido o comunicado da Vigilância Sanitária, a secretaria organizou a logística para o transporte e soltura dos jabutis na UC. Os animais eram grandes, pesados, e deveriam ser transportados com um mínimo de conforto para não chegarem muito estressados até o local onde seriam colocados em liberdade.

Ainda assim, com o acesso à RPPN em estado precário e no aguardo da intervenção da Prefeitura Municipal para sua melhoria, não houve passagem possível para o veículo: o trajeto final, cerca de 600 metros de ladeira íngreme, foi realizado com o transporte dos jabutis na força manual e com auxílio de um carrinho de mão.

Acompanhando a atividade de quarta feira, o biólogo e conhecido fotógrafo de natureza, Pedro Têia deixou claro que “são animais com sério risco de extinção aqui na caatinga. Um trabalho como esse sempre será de grande importância para que contribua para o desenvolvimento dessas espécies, para que possam procriar, aqui na Reserva, e aumentar a quantidade de indivíduos.”

A recente soltura dos animais capturados para vidas livres na natureza configura a importância da RPPN Mato da Onça na região, tendo sido local de atividades semelhantes realizadas pelo IMA – Instituto de Meio Ambiente de Alagoas e IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis e inaugura um maior envolvimento da gestão do município de Pão de Açúcar na urgente conservação de suas caatingas e do rio São Francisco.

Ainda assim, com apenas seis unidades de conservação (incluindo a RPPN Mato da Onça) às margens do Velho Chico em todo o Baixo São Francisco, ainda é muito pouco para que seja possível afirmar que uma pequena ação dessa garanta algum futuro. São necessárias mais áreas protegidas e políticas públicas municipais, estaduais e federais que, definitivamente, estabeleçam que a saúde do meio ambiente é indissociável da saúde humana e de seu futuro sobre a face da terra.


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