por Redação
A Comissão de Meio Ambiente, Seca e Recursos Hídricos realizou nesta quarta-feira (29) uma audiência pública semipresencial, no auditório da União dos Municípios da Bahia (UPB), para apresentação do Plano do Canal do Sertão Baiano, feita pela Companhia de Desenvolvimento do vale do São Francisco (Codevasf). O projeto, que integra a transposição das águas do Velho Chico, tem como objetivo abastecer uma área que abrange 47 municípios do semiárido baiano, beneficiando mais de um milhão de pessoas.
O presidente do colegiado, deputado José de Arimateia (Republicanos), frisou que a crise hídrica na Bahia é muito preocupante e que é necessário unir forças políticas suprapartidárias para realizar o canal do sertão. “Essa causa não é de José de Arimateia. Aqui a causa é justa e é de todos. Não tem pai da criança. Não podemos aceitar que a transposição do São Francisco já esteja chegando até o Ceará e não chega na Bahia”, disse o parlamentar, destacando ainda que entregou, pessoalmente, o projeto ao ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, para que tome conhecimento.
Os deputados Zó (PC do B), Josafá Marinho (Patriotas) e Júnior Muniz (PP) compuseram a Mesa presidida por José de Arimateia e com a presença de representantes municipais, estaduais, de órgãos públicos, de comitês de bacias hidrográficas e outros. Também participaram virtualmente da reunião os deputados membros do colegiado Marcelino Galo (PT), Jacó (PT) e Jurailton Santos (Republicanos).
Zó lembrou que o São Francisco completa na próxima segunda-feira, 4 de outubro, 521 anos de descobrimento. “Ele é o pai, a mãe, o irmão, o amigo do povo nordestino, desde a geração de energia, a geração de alimentos. Digo isso para partir da importância que é integrar o rio São Francisco a esses outros sistemas hídricos que há no Nordeste”.
Segundo o deputado, não se trata de um projeto de governo, mas de Estado. “É um projeto de segurança hídrica. A gente sabe a diferença dos lugares onde se tem água, desde água para beber, água para irrigar e para produzir. Claro, a gente precisa pensar muito na questão ambiental. A gente está tirando muita água do rio (São Francisco) todos os dias. Mas para essa situação a gente não pode deixar de tirar”, completou.
O deputado Josafá Marinho disse que, como natural do município de Jânio Quadros, no Sertão da Bahia, sabe da gravidade do problema da falta de água. “Hoje temos a oportunidade de defender esse projeto que é tão salutar para o Sertão”, declarou.
“Vamos estar imbuídos nessa luta. Nós que somos representantes da classe pesqueira aqui na Bahia. Sei da importância da piscicultura, o quanto é importante para o desenvolvimento econômico regional. Você se aproveita desse canal para desenvolver esse trabalho, no qual se cria ali piscicultores, apicultores. Enfim, toda essa cadeia econômica contribui para Bahia. A Bahia não pode ficar para trás”, afirmou Josafá.
Plano
A apresentação do Plano do Canal do Sertão Baiano ficou a cargo de Sérgio Coelho, engenheiro agrônomo e técnico da Codevasf. Ele mostrou o estudo de viabilidade e o anteprojeto de engenharia da transposição do São Francisco e lembrou que o mesmo está há muito em planejamento e leva em consideração as características e necessidades da região. A primeira delas seria o abastecimento humano, seguida pela dessedentação animal, para que rebanhos sejam mantidos. Também haveria a necessidade de irrigação de uma pequena parte das áreas, para sustentabilidade da atividade pecuária. Ele frisou, no entanto, que o canal não será para irrigação. “Nós pensamos em irrigação bem pequena, para essa atividade pecuária”.
Também foi cogitado no plano, segundo Sérgio Coelho, o abastecimento de água para a indústria e para a mineração, já que se sabe que há muito minério na região.
Segundo o técnico da Codevasf, o projeto seria facilitado por seu percurso de 297 km de canal gravitário, o que simplifica a operação do sistema e barateia o custo da água. “A gestão de um empreendimento dessa magnitude é difícil. Temos que pensar desde agora nesse canal como sendo de todos, e todos têm que ajudar a administrá-lo, para evitar problemas como roubo de água”, ressaltou.
Ele também destacou que, ao contrário do que muitos pensam, o projeto não tem como finalidade levar a água do canal para barragens, “pois é uma água cara e boa parte dela irá evaporar. Está previsto construir uma adutora para levar a quantidade de água para cada projeto”. “A barragem é um problema. Quem está dentro dela vai levando a bomba para lá. E quem está no projeto e precisa de água fica prejudicado”, explicou.
Por fim, ele disse que o projeto do canal está estimado em R$ 4 bilhões. Para a construção da rede de adutoras, ele diz que possivelmente seriam mais outros R$ 4 bilhões.
Alguns participantes, como o professor, pesquisador e ambientalista João Dias, membro do Conselho Gestor do Lago Pedra do Cavalo e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Paraguaçu, questionaram o plano da Codevasf. Ele disse que é preciso que o Canal do Sertão leve água à barragem de São José do Jacuípe, que tem 350 milhões de metros cúbicos e está com menos de 2%. “Nós queremos também revitalizar 145 km do rio Jacuípe. E essa revitalização vai acontecer de forma controlada através das comportas de São José do Rio de Jacuípe, até Feira de Santana”.
Ele foi enfático ao dizer que essa água não seria para o abastecimento de Feira, que é suprido por Pedra do Cavalo. “Queremos um canal para controlar o balanço hídrico da barragem”.
Sérgio também foi incisivo ao defender a Bahia como um Estado que não somente precisa de água, mas também tem o direito sobre ela, pois lança, com afluentes do São Francisco, cerca de 30% do volume do Velho Chico. “Temos que mostra isso à Codevasf, ao Ministério de Desenvolvimento Regional. Não é sensato pensar que a Bahia, além de ter necessidade, teria mais direito dos que os sete estados que receberam água?”.
União
Representante da UPB, o prefeito da cidade de Capim Groso, José Sivaldo Rios de Carvalho conclamou prefeitos a convidar os seus deputados federais e os senadores baianos para fazê-los entender a grandeza do projeto. “Estamos falando de mais de um milhão de pessoas sem água”, disse.
Ele afirmou ainda que o canal do sertão é uma possibilidade concreta de transformar essa situação. “Nós sabemos que quando esse canal for colocado em prática, vai abraçar esse estado da Bahia, como foi no Ceará, em Pernambuco e na Paraíba. A Bahia, que tem de fato o rio que socorre o nordeste, não pode ficar de fora”.
Presente virtualmente, o deputado federal Márcio Marinho observou que, pela composição da Mesa, com políticos de alas ideológicas diferentes, o Canal do Sertão estava sendo tratado devidamente como uma questão suprapartidária. “Estaremos trabalhando aqui, juntamente com os deputados do Estado, nossos prefeitos, junto com o governo federal, para que essa obra seja acelerada”, disse.
Nota da Redação
O Canal do Sertão Baiano é projeto que remonta à sua elaboração pela CODEVASF, que realizou apresentação conjunta do conceito da obra com outras transposições, ainda em 2013.
A versão pública mais recente é o anteprojeto elaborado pela GeoHidro, para a própria CODEVASF.
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Fontes
ALBA – Assembleia Legislativa da Bahia
GeoHidro
Codevasf – Companhia de Desenvolvimeto dos Vales do São Francisco e Parnaíba