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A longa carreira: 101 km por um punhado de peixes

Uma moqueca rala de pirambebas e acará-bois: o peixe acabou. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr | InfoSãoFrancisco.

Com o fim dos peixes no Baixo São Francisco, pescadores buscam o chamado “peixe escondido” que estaria, na lendária Boca do Saco, no alto sertão, local outrora referência regional pela sua piscosidade.

Com o fim das cheias naturais (e a negação, pelo setor elétrico em suprir o rio de água com vazões compatíveis e na época correspondente à da reprodução da ictiofauna) e a morte provocada das lagoas marginais, os ecossistemas aquáticos foram definitivamente afetados e o peixe definha.

Desde a imposição das vazões abaixo de 1.300 m³/s, em 2013 que pescadores buscam pelo peixe que, segundo uma lendária memória, estaria entocado nas pedras do sertão, “escondido” na parte mais profunda do rio, para resistir em derradeira tentativa de sobrevivência. Assim, é observada uma migração de atividades pesqueiras de zonas mais inferiores do Baixo São Francisco (os pescadores “da praia”, lá “de baixo”) que se deslocam para o sertão em busca de uma fictícia fartura que seria a salvação de seus ganhos.

Em nossa rotina de monitoramento dos impactos das vazões extremamente reduzidas a partir da UHE Xingó, tivemos a oportunidade do encontro com Seu José Raimundo Gomes, na Boca do Saco, abaixo de Entremontes.

Seu José Raimundo tem 54 anos, é pescador do Munguengue, Traipu, distante cerca de 101 km da prainha onde fazia sua magra despesca.

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A longa carreira de Seu José Raimundo Gomes atrás do peixe: navegando em seu bote, por 101 km, do Munguengue à Boca do Saco

Com o sumiço do peixe no Baixo São Francisco, sobretudo nas zonas mais próximas à foz, pescadores buscam, “de rio acima” uma ficcional situação de melhor pesca, “lá pra cima, perto da barragem, onde o peixe está escondido”.

Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 1 – A Boca do Saco, onde tem início o difícil trecho com pedras que afloram, até Piranhas. Pela legendária tradição, o local é considerado, como um dos mais piscosos do Baixo São Francisco.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 2 – Distante de seu lugar, de casa, solitariamente Seu José Raimundo Gomes, do Munguengue, tenta a sorte na Boca do Saco.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 3 – “Sai de casa na quinta feira, e num dia de domingo tô aqui. Num tem peixe, só essa bagaceira que se agarra na rede…”.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 4 – “e o pouco peixe que pega, é isso, pirambeba miúda, um cará boi miúdo… “. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 5 – “esse lodo, lá pra baixo inda é pior, é uma tarde, pra limpar a rede… “. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 6 – A infestação de vegetação macrófita exótica invasora e de algas verdes inviabilizando a vida aquática não é considerada pelos órgãos ambientais como um [grave] problema a ser solucionado.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 7 – De rio acima, as pedras até Piranhas, onde estaria a sonhada fartura dos peixes entocados, “escondidos”.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 8 – “é difícil, mas, fazer o que?”.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 9 – Uma pirambeba miúda…
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 10 – Outra pirambeba miúda, e assim vai: peixe pouco, suja pelas algas e vegetação invasoras.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 11 – Vazões ínfimas, sem controle de despejo de efluentes, altas temperaturas, vegetação aquática invasora igualmente sem controle como base para fixação: a receita para a sopa de algas e todo o Baixo São Francisco.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 12 – O esforço para tentar algum sucesso na pescaria é incompatível com o resultado em um rio que já foi dos mais ricos do Brasil.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 13 – A água verde, quase negra, em alguns pontos, comprova a gravidade da situação: não está para peixe, nem para gente.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 14 – “será que tem jeito esse rio, pra voltar ao que era? Tem, não… “.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 15 – No presente há uma segura dominância de algumas poucas espécies que ainda resistem à desastrosa gestão do rio e a pirambeba é uma delas. E, ainda assim, em quantidade que declina.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 16 – A bordo de seu pequeno barco, cuja precária conservação está relacionada com o pouco que levanta com a pesca, Seu José Raimundo Gomes também busca o “peixe escondido”.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 17- “se não aventurar alguma coisa, é pior “.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 18 – “na segunda-feira, ou terça-feira, se Deus quiser, eu puxo pra casa… “.

Produção da matéria:

Carlos Eduardo Ribeiro Jr – Organização, fotos e texto

Daiane Fausto dos Santos – Organização, tratamento de imagens

Artigos de autoria e opinião não refletem, obrigatoriamente, posições e opiniões do InfoSãoFrancisco,

Sobre o autor

Carlos Eduardo Ribeiro Junior

Co-criador do InfoSãoFrancisco e coordenador do projeto.

Daiane Fausto dos Santos

Co-criadora do InfoSãoFrancisco e responsável pelo banco de imagens.