19 maio 2021 at 10:56 (Atualizado em 15 junho 2021 at 14:33)
Com o fim dos peixes no Baixo São Francisco, pescadores buscam o chamado “peixe escondido” que estaria, na lendária Boca do Saco, no alto sertão, local outrora referência regional pela sua piscosidade.
Com o fim das cheias naturais (e a negação, pelo setor elétrico em suprir o rio de água com vazões compatíveis e na época correspondente à da reprodução da ictiofauna) e a morte provocada das lagoas marginais, os ecossistemas aquáticos foram definitivamente afetados e o peixe definha.
Desde a imposição das vazões abaixo de 1.300 m³/s, em 2013 que pescadores buscam pelo peixe que, segundo uma lendária memória, estaria entocado nas pedras do sertão, “escondido” na parte mais profunda do rio, para resistir em derradeira tentativa de sobrevivência. Assim, é observada uma migração de atividades pesqueiras de zonas mais inferiores do Baixo São Francisco (os pescadores “da praia”, lá “de baixo”) que se deslocam para o sertão em busca de uma fictícia fartura que seria a salvação de seus ganhos.
Em nossa rotina de monitoramento dos impactos das vazões extremamente reduzidas a partir da UHE Xingó, tivemos a oportunidade do encontro com Seu José Raimundo Gomes, na Boca do Saco, abaixo de Entremontes.
Seu José Raimundo tem 54 anos, é pescador do Munguengue, Traipu, distante cerca de 101 km da prainha onde fazia sua magra despesca.
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A longa carreira de Seu José Raimundo Gomes atrás do peixe: navegando em seu bote, por 101 km, do Munguengue à Boca do Saco
Com o sumiço do peixe no Baixo São Francisco, sobretudo nas zonas mais próximas à foz, pescadores buscam, “de rio acima” uma ficcional situação de melhor pesca, “lá pra cima, perto da barragem, onde o peixe está escondido”.
Foto 10 â Outra pirambeba miúda, e assim vai: peixe pouco, suja pelas algas e vegetação invasoras.
Foto: Carlos E. Ribeiro Jr./InfoSãoFrancisco.
Foto 11 â Vazões Ãnfimas, sem controle de despejo de efluentes, altas temperaturas, vegetação aquática invasora igualmente sem controle como base para fixação: a receita para a sopa de algas e todo o Baixo São Francisco.