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Mexilhões dourados: sem ações de controle, seguem seu avanço pelo Baixo

Ocorrência denunciada aos órgãos gestores das águas e territórios da bacia do São Francisco foi ignorada criando situação favorável à expansão dos organismos que agora são encontrados em sistemas de captação de água para consumo humano

Mexilhões dourados fixados em fundo da caixa d’água (RMO) – Foto: Carlos E. Ribeiro | Canoa de Tolda/InfoSãoFrancisco

O mexilhão dourado (Limnoperna fortunei) segue sua instalação tranquila e silenciosa no Baixo São Francisco, a caminho de ocupação em mais e mais áreas o que pode significar, uma vez que não são conhecidas quaisquer medidas de monitoramento, controle e combate, a expansão de modo a criar situação grave em futuro não tão distante.

Há algumas semanas, e em situação de reincidência, em atividade de manutenção de sistema (autônomo) de captação e estocagem de água para consumo humano na RMO – Reserva Mato da Onça, foi verificada a formação de uma colônia de diversos indivíduos nas caixas d’água da sede Unidade de Conservação. Para informação, a válvula no ponto de captação é revestida de rede fina em material sintético, para o impedimento de sucção de organismos e/ou corpos estranhos sendo, porém, incapaz de filtrar larvas diminutas de formas de vida diversas.

No alto sertão, uma varredura por costões rochosos, estacas de cerca em zona molhada, flutuantes de bombas, permite a constatação do estágio mais avançado da infestação.

UMA SITUAÇÃO QUE NÃO É DESCONHECIDA

Ao final de 2016 a Sociedade Canoa de Tolda divulgou o primeiro registro (até então público) de ocorrência do mexilhão dourado (Limnoperna fortunei) na Reserva Mato da Onça através do Alerta 01 /2016 – Ocorrência do Mexilhão Dourado no Baixo São Francisco, seguindo, alguns dias depois, pelo

Em 2016, na Mata Comprida, um dos focos inicialmente identificados do organismo. Foto: Daia Fausto | Canoa de Tolda/InfoSãoFrancisco

Alerta 02 /2016 – Expansão da Zona de Ocorrência do Mexilhão Dourado no Baixo São Francisco. Na mesma ocasião foram encaminhadas comunicações para os principais órgãos da gestão de águas e território do São Francisco, além da ANA – Agência Nacional de Águas, CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, MMA – Ministério do Meio Ambiente (este por sua vez, criou uma certa Força Tarefa Nacional de Combate ao Mexilhão Dourado, que publicou um Plano de Ação em 2004 e desde então, não há conhecimento de atividades) e CBHSF – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.

Em junho de 2017 o sistema de captação de água da CASAL – Companhia de Saneamento de Alagoas em Piaçabuçu, na foz do rio, sofreu interrupção provocada pela infestação interna.

FUTURO INCERTO

Colônia de mexilhões dourados em flutuante na Mata Comprida. Foto: Carlos E. Ribeiro | Canoa de Tolda/InfoSãoFrancisco

O problema do mexilhão dourado, ignorado de forma temerária, vem se somar aos diversos agentes, como invasão de macrófitas (flora aquática) exótica, infestação de algas verdes e vegetação semiaquática (na borda do espelho d’água com a zona secada do leito do rio) que incham a gravidade do passivo de quarenta anos de regularização acrescido de sete anos (2013/2020) com vazões ínfimas (abaixo dos 1.300 m³/s  – hum mil e trezentos metros cúbicos por segundo – estabelecidos pelo Plano de Bacia Hidrográfica) e incapazes de manter a biota aquática do Baixo São Francisco.


◊ Imagem em destaque – Mexilhões dourados | Foto: Daia Fausto | Canoa de Tolda/InfoSãoFrancisco