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O papel do aquecimento global em eventos climáticos extremos

Enchente no Paquistão: aquecimento global aumenta probabilidade de catástrofes mortaisFoto: Shakeel Ahmed/AA/picture alliance

por Jan D. Walter e Beatrice Christofaro | Deutsche Welle

Cientistas estudam quão grande é o impacto da mudança climática sobre catástrofes como enchente no Paquistão e calor e seca na Europa. E afirmam: queima de combustíveis fósseis torna esses extremos mais prováveis.


Depois de ondas de calor escaldante estorricarem safras e secarem rios caudalosos no Hemisfério Norte, uma catastrófica super enchente matou mais de mil e desalojou milhões no Paquistão.

A ministra para Mudança Climática Sherry Rehman relatou à DW como, vista de um helicóptero, a área parecia “um pequeno oceano”, devido à chuva incessante que se seguiu a altas temperaturas e uma estação de incêndios florestais. “É uma catástrofe climática, tenho toda certeza.”

Há anos, cientistas soam o alarma: a queima de combustíveis fósseis e o consequente aquecimento do planeta estão tornando mais frequentes e intensos os eventos climáticos extremos. Porém não está claro até que ponto as mudanças climáticas são responsáveis pelos fenômenos mais recentes.

É muito difícil estabelecer uma correlação causal direta entre o incremento da temperatura média global e uma tempestade isolada, por exemplo.

“Condições extremas sempre houve e sempre haverá”, confirma Sjoukje Philip, pesquisadora do clima do Real Instituto Meteorológico dos Países Baixos. “Ainda assim, a mudança climática pode ter impacto sobre a probabilidade ou intensidades dos eventos.”

Determinar a extensão dessa contribuição é justamente seu trabalho junto à equipe internacional da World Weather Attribution (WWA), uma iniciativa que conduz em tempo real análises de atribuição de eventos meteorológicos globais.

Cheia no Vale do Rio Ahr deixou rastro de destruição na Alemanha em meados de 2021. Foto: Thomas Lohnes/Getty Images

Aquecimento global como fator para inundações e calor

Catástrofes meteorológicas nunca têm uma única causa, resultando de fatores tanto naturais quanto de fabricação humana. Por exemplo: desmatamento em grande escala e asfaltamento de áreas verdes, que normalmente absorveriam a precipitação pluvial, podem agravar as enchentes.

A mudança climática, obviamente, também é um fator humano, mas nunca o único estopim de uma catástrofe meteorológica. Sua influência depende da natureza do fenômeno e tem peso diferente para cada evento, explica a climatóloga alemã Friederike Otto, do Imperial College de Londres, uma das fundadoras da equipe de pesquisa da WWA.

Para grande parte dos eventos, como chuvas pesadas ou secas, as mudanças climáticas globais “são um fator relativamente pequeno, em relação a outros”, diz Otto.

“Uma atmosfera mais quente pode reter mais umidade, resultando em chuva mais pesada”, confirma Sjoukje Philip, porém quando e onde a chuva cai, depende de uma diversidade de fatores.

A correlação entre extremos de temperatura e o aquecimento global é muito mais direta, explica a climatóloga de Holanda: as oscilações de temperatura não estão necessariamente mais extremas, mas à medida que a média global aumenta, as ondas de calor ficam mais quentes e os períodos frios, mais brandos.

Sem o aquecimento global, os recentes recordes de 40 ºC no Reino Unido seriam praticamente impossíveis, assim como a onda de calor de 2021 na América do Norte, indicam as análises da WWA. A mudança climática tornou 30 vezes mais prováveis as ondas de calor mortal precoces do ano corrente, na Índia e no Paquistão.

Calor de 40 ºC no Reino Unido seria praticamente impossível sem o aquecimento global, indicam análises. Foto: Glen Minikin/ SOLO Syndication/picture alliance

Efeitos dependem da localização

Os impactos das mudanças climáticas também variam de região para região, mesmo que se trate e tipos semelhantes de eventos extremos, prossegue Philip.

Compare-se as enchentes na Europa ocidental em julho de 2021, que atingiram sobretudo o Vale do Rio Ahr, na Alemanha, e a Bélgica e deixaram mais de 200 mortos, e a inundação da província KwaZulu-Natal, na África do Sul, em abril de 2022, com pelo menos 435 vítimas.

Segundo a análise da WWA, por volta do início do século 20 a precipitação exagerada no Vale do Ahr só teria probabilidade de acontecer a cada 500 anos. O aquecimento global, contudo, tornou o evento de 1,2 a nove vezes mais provável, podendo repetir-se dentro de 56 a 400 anos. Ao mesmo tempo, a chuva foi possivelmente de 3% a 19% mais forte do que seria 120 anos atrás.

Em KwaZulu-Natal, os cientistas concluíram que a mudança climática tornou de 4% a 8% mais fortes as chuvas torrenciais que devastaram vilas inteiras, e dobrou sua probabilidade de ocorrer.

Portanto as incertezas de atribuição meteorológica variam fortemente, dependendo da localização. Os climatólogos são capazes de determinar a influência do aquecimento com mais precisão em regiões mais amplas. A área inundada na África do Sul era muitas vezes maior do que a dos vales belgas e alemães, porém é quase garantido que no primeiro caso a influência do aquecimento global foi menor.

A meteorologia é caótica demais para permitir prever desastres potenciais no futuro distante, com base nos modelos existentes. Uma previsão do tempo séria ainda é possível somente com poucos dias de antecedência.

Porém o que os modelos de atribuição meteorológica “calculam muito bem” é a frequência de certos padrões, frisa Otto. E, de acordo com as constatações da WWA, se continuarmos a queimar combustíveis fósseis, fazendo subirem as temperatura médias globais, tornam-se mais prováveis os padrões meteorológicos capazes de desencadear enchentes, secas e outros extremos.

Fontes: DW – Deutsche Welle


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