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Aumento da irrigação por pivôs centrais indica menos água e mais conflitos futuros

Estudos da ANA e EMBRAPA identificam forte tendência de crescimento da agricultura irrigada por pivôs centrais no Brasil.

A agricultura irrigada por pivôs centrais apresenta crescimento forte e persistente nas últimas décadas, e que se acelerou ainda mais a partir de 2010, chegando a uma área de 1,476 milhão de hectares e, 2017, o equivalente a 2,5 vezes o território do Distrito Federal. Este total é 47 vezes maior que a área mapeada em 1985 e o triplo registrado no ano 2000, quando foram contabilizados respectivamente 31 mil e 490,5 mil hectares. Esta é uma das conclusões apontadas pelo Levantamento da Agricultura Irrigada por Pivôs Centrais no Brasil, produzido pela Agência Nacional de Águas (ANA) em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), lançado em 4 de julho em Cristalina (GO).

Gráfico – ANA – Agência Nacional de Águas

Área equipada e número de pivôs centrais por região (1985-2017)

Atualmente Minas Gerais, Goiás, Bahia e São Paulo concentram 77% da área total – respectivamente 31%, 18%, 15% e 13%. O levantamento também indica que novos polos de pivôs centrais em Mato Grosso e Rio Grande do Sul surgiram mais recentemente, com crescimento em ritmo superior aos demais estados, resultando em 8% da área nacional para cada uma das duas unidades da Federação.

Tabela – ANA – Agência Nacional de Águas

Os três principais municípios irrigantes – Unaí (MG), Paracatu (MG) e Cristalina (GO) – são limítrofes e formam a maior concentração de pivôs do Brasil com 2.558 pivôs ocupando 191 mil hectares. Conforme o estudo da ANA e EMBRAPA, o crescimento do uso de pivôs centrais é expressivo na maior parte dos municípios onde a tecnologia é utilizada, superando 150% com frequência entre 2000 e 2017. Nos seis maiores estados concentram-se, ainda, municípios que mais que quintuplicaram (+500%) suas áreas irrigadas por pivôs no mesmo período, com destaque para territórios em Mato Grosso e Rio Grande do Sul.

Os resultados do levantamento histórico permitiram a delimitação dos 17 principais polos nacionais de irrigação por pivôs centrais, que concentram 59% da área irrigada. De acordo com o estudo, o Oeste Baiano é o polo com maior área coberta por pivôs. Também na Bahia, o polo Mucugê-Ibicoara possui a maior concentração (ou densidade) de pivôs. O polo do rio São Marcos apresenta a segunda maior área e a segunda maior densidade, sendo o mais intensivo do País.


PIVÔS CENTRAIS E O BAIXO SÃO FRANCISCO

Aquífero Urucuia – Cartografia CPRM

Afinal, qual a haveria de fato relação entre a proliferação de pivôs centrais na bacia do São Francisco (mais exatamente na região do Aquífero Urucuia, que abrange partes do oeste da Bahia, noroeste de Minas Gerais e ainda uma fração de Goiás), tão distantes?

A resposta é simples: sim, a relação é direta pois a agressiva possessão da água pelo agronegócio na região, sem controle sobretudo nas bacias dos rios Grande e Corrente, na Bahia, e Paracatu, em Minas (dois dos principais afluentes perenes do São Francisco, respectivamente responsáveis pelo aporte de volumes significativos de água para o São Francisco, importância extrema nos períodos de estiagem (a chamada estação seca). Nesta época, sem as chuvas das cabeceiras, no Alto São Francisco, é o Aquífero Urucuia, com suas águas subterrâneas, que garante a perenidade e as vazões dos principais afluentes da margem esquerda. É a recarga essencial para a manutenção das vazões do São Francisco que fazem com que chegue ao Atlântico como um rio, de fato.

É importante ter em conta que dentre os usuários das águas do São Francisco, o setor agrícola irrigado responde por 77% da água captada (dados ANA). Porém, os rios em questão são rios de domínio dos estados da Bahia e Minas, portanto, com sistemas de outorga (licenciamento de usos das águas) a cargo daquelas unidades. Não aconteceu, até hoje, a realização de um claro e sólido sistema integrado de outorgas de estados e da união (o São Francisco, por ser um rio de domínio da União, por percorrer vários estados tem suas águas outorgadas pela ANA) e tampouco de gestão integrada.

Tal ambiente favorece, há anos, o uso predatório, suicida, das águas subterrâneas sem controle deixando mais uma vez bem claro que a conservação do São Francisco não foi, não é e muito provavelmente não será (em curto ou médio prazos) um objetivo prioritário nacional. Segue, sem maiores empecilhos, o padrão aplicado para a grande maioria dos rios brasileiros, para a escassa água doce que, além do setor elétrico, dominador regulador primeiro, conta com o não menos voraz parceiro do agronegócio. Com menos água vinda do Urucuia, naturalmente menos água chegará até a foz do Velho Chico.

Foi realizada também uma avaliação das taxas de ativação dos pivôs ao longo do ano, demonstrando que as áreas estão mais ocupadas com culturas no período chuvoso. Entretanto os equipamentos são poucos acionados, sendo utilizados mais para proteção a riscos climáticos. Nas principais áreas produtoras por pivôs, a maior demanda de irrigação tende a ocorrer na segunda safra (ou safrinha), quando a taxa de ocupação ainda é alta e as chuvas diminuem ao longo do ciclo das culturas, requerendo o acionamento dos equipamentos com maior frequência. No período seco o uso da água também é significativo, pois o acionamento dos equipamentos atinge seu máximo, mas a área equipada com culturas recua para níveis inferiores, da ordem de 30 a 40% da área total.

Tabela – ANA – Agência Nacional de Águas

A atualização do Levantamento da Agricultura Irrigada por Pivôs Centrais no Brasil, cuja primeira edição foi lançada em 2016, contribuirá para a construção da segunda edição do Atlas Irrigação: Uso Da Água Na Agricultura Irrigada, publicação mais abrangente da ANA sobre a agricultura irrigada prevista para ser lançada em 2020. O Atlas é uma referência técnica sobre a irrigação brasileira na sua interface com os recursos hídricos e teve sua primeira edição divulgada em 2017.

A caracterização e análise da série histórica e do mapeamento atualizado de pivôs são subsídios fundamentais para o planejamento, de forma a garantir segurança hídrica para o setor e promover o desenvolvimento regional, uma vez que os pivôs centrais deverão continuar liderando a expansão da área irrigada no País.

Na primeira versão do Levantamento Agricultura Irrigada por Pivôs Centrais no Brasil houve o mapeamento de pivôs no Brasil com base me imagens de satélite de alta e média resolução espacial em 2014. Desde então, a ANA e a EMBRAPA trabalharam no aperfeiçoamento do primeiro mapeamento de pivôs centrais e na extensão da série temporal, resultando numa base de dados histórica. Com isso a segunda edição detalha a evolução do número de equipamentos e da área equipada para irrigação por pivôs de 1985 a 2017 em todo o Brasil.


Veja ainda

Atlas Digital das Águas de Minas – Rio Paracatu

Estudos Hidrológicos e Hidrogeológicos Integrados na Região do Aquífero Urucuia CPRM

Projeto Águas do Norte de Minas – PANM – CPRM

Estudo da Influência dos Usos Consuntivos da Água do Rio Corrente na Vazão do Rio São Francisco – UFRB- Tese graduação 


Fontes e informações adicionais

Resultados desagregados dos mapeamentos de pivôs centrais, por município, bem como mapas interativos e painéis de indicadores, podem ser acessados por meio do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH), em www.snirh.gov.br, na seção Usos da Água, ou por meio dos links a seguir.

Publicação: https://www.ana.gov.br/noticias/ana-e-embrapa-identificam-forte-tendencia-de-crescimento-da-agricultura-irrigada-por-pivos-centrais-no-brasil/ana_levantamento-da-agricultura-irrigada-por-pivos-centrais_2019.pdf

PowerBI (painel de dados): https://app.powerbi.com/viewr=eyJrIjoiZmNmMmU0ZTYtYmZiYS00ZTk3LWFlMTMtZjQwMzU1MGQ1Y2E4IiwidCI6ImUwYmI0MDEyLTgxMGItNDY5YS04YjRkLTY2N2ZjZDFiYWY4OCJ9

Mapas Interativos: http://portal1.snirh.gov.br/ana/apps/webappviewer/index.html?id=b4e4b8d669cd46a99963f565c7404317

Assessoria de Comunicação Social (ASCOM)
Agência Nacional de Águas (ANA)

◊ Imagem em destaque – Fragmento mapa interativo – ANA ©2019