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MapSãoFrancisco avança: lagoas esquecidas, mas existentes, de volta em cartografia pública

por InfoSãoFrancisco

Em aproximadamente um mês desde seu lançamento e contando com colaboradores de diversas partes do mundo, projeto de mapeamento de lagoas e várzeas marginais do Baixo São Francisco já possibilitou que inúmeros corpos hídricos fossem representados na plataforma pública OpenStreetMap.


O primeiro projeto do MapSãoFrancisco priorizando lagoas e várzeas marginais no trecho baixo do rio São Francisco, a jusante da UHE Xingó, encerra o ano contando com cerca de mais de 300 km² de área totalmente mapeada e gradativamente os elementos vão sendo introduzidos na plataforma de cartografia online colaborativa OpenStreetMap, que é pública.

Com a publicação dos mapeamentos, automaticamente lagoas e várzeas que tiveram suas validações passam a fazer parte da cartografia mundial do OpenStreetMap que também é utilizada por inúmeros governos e órgãos públicos em todo o mundo.

Fig. 01 – Trecho do Baixo São Francisco na região de Pão de Açúcar e as inúmeras lagoas mapeadas em sistema da ANA – Agência Nacional de Águas. Reprodução: ANA/SNIRH

No Brasil, vários órgãos utilizam a base, como a ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico e o SNIRH – Sistema Nacional de Informações Sobre Recursos Hídricos, e o CBHSF – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, sendo que ambos não geram dados próprios relacionados às lagoas e várzeas no Baixo São Francisco.

Fig. 02 – O mesmo trecho da figura 01, no sistema Siga São Francisco, do CBHSF – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Reprodução: CBHSF

Validando as tarefas

No momento, duas das três áreas de trabalho do projeto já foram inteiramente mapeadas e suas tarefas se encontram em processo de revisão e validação com o uso da ferramenta livre Tasking Manager, disponibilizada pelo HOT.

Nesta etapa, o trabalho realizado por pessoas colaboradoras em diversos países além do Brasil, é verificado e eventualmente corrigido não só no desenho das poligonais mas também em itens de classificação, como a condição de intermitência de água (assim como os rios intermitentes representados em diversas cartografias) e inclusão de classificação de zona de risco (como possíveis inundações).

A análise e conferência das tarefas para sua validação é uma fase essencial no processo de mapeamento coletivo, sendo realizada por pessoas com adequado conhecimento local da região.

Duas das três áreas de trabalho do projeto já tiveram seus mapeamentos concluídos (em azul) e aguardam a validação final (em verde). Reprodução: HOT/Tasking Manager

Deve ser levado em conta que as lagoas no Baixo São Francisco são corpos hídricos que se encontram degradados, com muitas com ocupações irregulares, o que dificulta a análise de imagem satelital por pessoas não conhecedoras do panorama regional.

“O fato de haver, muitas vezes, inconsistências no mapeamento não invalida o esforço de colaboradores que tentam dar o melhor de si para a realização do projeto: mapear um elemento como uma lagoa ou várzea em nossa região é bem mais complexo do que desenhar a poligonal de uma casa, uma estrada, que estão claramente identificados na imagem satelital”, explica Carlos Eduardo Ribeiro Jr., membro fundador da Canoa de Tolda e um dos criadores do MapSãoFrancisco.

O projeto tem perspectivas amplas

Segundo os organizadores, para a melhoria do projeto estão previstas, tão logo quando possível, uma extensa campanha de campo para diagnóstico in loco e produção de imagens aéreas (com drones) das lagoas mapeadas. Tal atividade permitirá que o trabalho realizado remotamente possa ser ajustado ou corrigido e atualizado com maior precisão e a criação de base de dados para construção de modelagens e simulação de cheias.

Nas atividades de campo há ainda a previsão de inclusão na ficha de dados de cada lagoa dos depoimentos que serão colhidos de moradores de seu entorno. Serão testemunhos de pessoas que conheceram o local anteriormente à regularização do rio e eliminação do ciclo natural de cheias (em 1979/80 com a construção da UHE Sobradinho), legitimando a ainda não tão longínqua memória do rio livre que atestava que “o rio batia aqui…”

Ainda de acordo com Carlos Eduardo, “a iniciativa do mapeamento das lagoas e várzeas pelo MapSãoFrancisco é de longo prazo, permanente, pois exigirá constante atualização da complexa, e sem qualquer controle, dinâmica dos usos e ocupações da planície de inundação no Baixo São Francisco.”

Efetivamente, desde a regularização do Velho Chico, com o fim das cheias cíclicas, a planície de inundação do rio em todo o Baixo São Francisco, sem fiscalização e ações de impedimento, são objeto de intensa ocupação irregular, o que favorece a formação de cenário de [alto] risco potencial em caso de alagamentos.

Como publicado pelo InfoSãoFrancisco, é desconhecida a existência de um plano de emergência integrado, preventivo, e de resposta para um evento extremo assim como também não há registro de mapa específico, oficial, com a exata poligonal da área de inundação e de suas zonas de risco.

O projeto do mapeamento das lagoas e várzeas no Baixo São Francisco foi idealizado como uma das bases para o levantamento de todas as zonas de risco nas bandas de Alagoas e Sergipe.

“Esse projeto de abertura é a primeira etapa do mapeamento das populações inseridas em zonas de risco da extensa área de alagamento em caso de evento extremo, uma perspectiva, infeliz e perigosamente ignorada por municípios, estados e pela União. O que se passa na Bahia e no vale do Parnaíba são situações que deveriam provocar grande apreensão para as populações e gestores de nossa região que não conta com um grande plano de emergência integrado”, conclui Carlos Eduardo.

O projeto de Mapeamento de Lagoas e Várzeas Marginais do Baixo São Francisco é uma iniciativa da Canoa de Tolda e InfoSãoFrancisco que conta com a cooperação técnica do HOT – Humanitarian OpenStreetMap Team e da UFAL – Universidade Federal de Alagoas através de seu curso de Engenharia de Pesca com o IMAP – Laboratório de Investigação e Manejo da Pesca, em Penedo, Alagoas.

Como colaborar no mapeamento das lagoas e várzeas

Para participar dos projetos do MapSãoFrancisco é necessário que a pessoa tenha uma conta no OSM – OpenStreetMap.

Em seguida, ela fará seu primeiro acesso na plataforma Tasking Manager do HOT que identificará automaticamente sua conta/usuário.

Ali serão encontradas todas as informações inclusive de vídeos de treinamento que contam com tradução instantânea para o português.

Para a seleção das áreas do projeto que poderão ser mapeadas, o acesso poderá ser feito tanto pelo MapSãoFrancisco como pelo Tasking Manager.

Todos os projetos do MapSãoFrancisco estão em português.


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Fontes: MapSãoFrancisco; Canoa de Tolda; HOT – Humanitarian OpenStreetMap Team; ANA/SNIRH; CBHSF/Siga São Francisco