Porém, como também já por diversas vezes noticiado, temos que até o presente a UHE Xingó opera (veja quadro abaixo Até Que Caia) com a Autorização Especial IBAMA 012/2017 que permite operações até 550 m³/s.
Portanto, o setor elétrico tem, de forma prática e legal, o espaço para operações estremas, quando for de seu interesse. A esta facilidade temos a validação da Resolução ANA 2081/2017 que permite a operação com vazões mínimas de 700 m³/s, situação inconcebível também inúmeras vezes aqui apresentada.
Amparado por uma estrutura legal construída com a quietude e silêncio de órgãos da gestão, ambientais, estados, municípios, da sociedade em geral, o setor elétrico domina, até nova ordem, cada gota do Velho Chico.
Um sistema que não favorece a sociedade e populações a jusante do barramento
A resposta da CHESF, alegando que a atualização das informações é feita manualmente é inaceitável, indo de encontro à necessidade evidente de empresa de tal porte se atualizar para cumprir sua obrigação de fornecer à sociedade dados imprescindíveis para o conhecimento das vazões na UHE Xingó.
Tais informações são um direito precípuo das populações impactadas pelas operações do barramento e em situação de vulnerabilidade em caso de evento extremo, ao mesmo tempo que uma obrigação por parte dos operadores dos barramentos.
Pela resposta que tivemos, pode ser imaginado que órgãos (como o Comitê da Bacia, ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Defesa Civil dos estados de Sergipe e Alagoas, pelo escopo de suas atribuições ) que deveriam, de forma rotineira, sem interrupções, estar monitorando – e divulgando – tais informações, por motivos não conhecidos não teriam atentado ao problema que perdurou pelo excessivo tempo de uma semana (2).
Devemos lembrar que permanece situação de não disponibilidade das vazões instantâneas – ou seja, a apresentação do valor exato da vazão defluente em operação no momento de acesso à base de dados – a qualquer momento: as vazões disponibilizadas são sempre de períodos anteriores à data de acesso sendo que nos finais de semana não há atualização.
Outro ponto sensível e objeto de conflito, é o fato de que a geração de dados das vazões da UHE Xingó estão originadas unicamente a partir da CHESF, sem qualquer alternativa. Os mesmos órgãos citados acima, deveriam, há muito tempo, ter sistemas independentes de medição das vazões (1) e divulgação dos dados. Temos, portanto, uma situação onde a sociedade de modo geral e as populações a jusante de Xingó, estão reféns de uma única, precária e ineficiente fonte de informações de alta relevância, inclusive para a salvaguarda de vidas humanas.
A necessidade dos dados das vazões de Xingó, a qualquer momento, vinte e quatro horas por dia, é um direito das populações a jusante da barragem, urgente, inadiável.
Notas
(1) A ANA dispõe de inúmeras estações fluviométricas ao longo do Baixo São Francisco, porém não fornece dados de vazões instantâneas na saída da UHE Xingó.
(2) O espaço do InfoSãoFrancisco está aberto aos órgãos para que apresentem suas versões.