Postado emNotícias / Baixo São Francisco

Entenda como funcionam as operações de barramentos no Velho Chico

A temerária e não democrática gestão do São Francisco e os territórios de sua bacia, atendendo a setores hegemônicos sem qualquer preocupação socioambiental, é um dos principais componentes que levaram sua degradação ao limite do irreversível.

Afinal, quem determina como o rio é, como será dentro de algumas horas, dias, meses e anos?

Tal pergunta é cotidiana, há anos, ao serem miradas as poucas águas que [ainda] correm no baixo São Francisco: as outrora bem-vindas cheias são apenas lembranças nas memórias dos mais velhos – já há tempos taxadas como uma praga, “flagelo” que os barramentos varreriam para sempre dos infelizes ribeirinhos.

E o que se vê, não sem causar rancor, tristeza, sensação de domínio bruto das vidas modificadas (em geral para pior, desde as barragens), é a regra quase que diária, há muitos anos [1]: pouca água (o padrão anual), muita água que vem de modo súbito (algumas vezes), o rio subindo e descendo todos os dias, como uma maré imprevisível; finais de semana quase sem água.

Enfim, um rio que, visivelmente, há cerca de quarenta anos, não segue mais os ciclos naturais milenares e aos quais as populações da região, desde que aqui chegou gente [2], ajustou suas vidas e agora vive a modificação silenciosa da paisagem que, deformada, corta os vínculos milenares das pessoas com as águas do São Francisco.

Para conhecer mais e entender a realidade do uso das águas do rio São Francisco, acesse a íntegra do artigo  Quem Pilota os Destinos Desse Rio?


Notas

Há um limite desta quantidade de água mínima, estabelecido pelo Plano de Bacia elaborado pelo CBHSF – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, que faz parte da LO – Licença de Operação emitida pelo IBAMA para cada barragem (ou empreendimento, como formalmente são chamados os barramentos). Porém, como vimos a partir de 2013, licenciamentos e restrições não são absolutamente restritivos ao setor elétrico e outros que utilizam o patrimônio natural. a exemplo de como o meio ambiente é tratado ainda hoje em nosso país.

1- Em 2019/2020 o São Francisco completa cerca de quarenta anos da entrada em operação da barragem de Sobradinho. São décadas de impactos profundos, cumulativos e crescentes que determinaram mudanças definitivas nas vidas das pessoas e dos ecossistemas aquáticos e ripários dos Sub Médio e Baixo São Francisco.

2- As ocupações humanas no Baixo São Francisco são datadas de cerca de 10.000 anos antes do presente. Veja mais em Antes do Europeu.


Fonte:

Canoa de Tolda – Sítio eletrônico da Sociedade Canoa de Tolda


◊ Imagem em destaque – As tardes de verão em Piaçabuçu, AL, tranquilas, belas, escondem a dura realidade da apropriação das águas do São Francisco. Foto | Canoa de Tolda © 2019